Exército estava a avaliar se atirador de Fort Hood tinha stress pós-traumático

O cabo Ivan Lopes matou quatro pessoas e feriu 16. Estava a ser seguido sob suspeita de sofrer de stress pós-traumático, após uma missão no Iraque. O exército americano não sabe explicar o que aconteceu.

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Os militares esperaram com as famílias à porta do forte, que esteve horas fechado Deborah Cannon/REUTERS

Não se sabe que motivos que terão levado o cabo Ivan Lopez a, na quarta-feira, pegar numa pistola semiautomática Smith & Wesson de calibre .45, comprada há pouco tempo, e a disparar dentro de um edifício da base militar norte-americana de Fort Hood, no Texas, onde tinha sido colocado em Fevereiro. E depois entrar num carro e continuar a disparar — até ser confrontado por uma polícia militar e virar a arma contra si próprio. É apenas mais um caso nos Estados Unidos de alguém que pega numa arma e desata a matar — e, importante, tem problemas de saúde mental que, suspeita-se, não estarão a ser tratados de forma conveniente.

O cabo Lopez, de 34 anos, estava a ser acompanhado por um psiquiatra, garantiu John McHugh, o secretário do Exército, ao prestar esclarecimentos ao Congresso. “Estava a fazer tratamentos para problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e perturbações do sono. Tomava vários medicamentos”.

O tratamento tinha começado porque Ivan Lopez se tinha “auto-diagnosticado” como sofrendo de traumatismo cranioencefálico — a que por vezes se chama o ferimento típico dos veteranos das guerras do Afeganistão e do Iraque.

Trata-se de um  trauma que perturba o funcionamento do cérebro e que pode ser causado por uma explosão, uma queda ou acidentes de viação. Nem sempre os sintomas são visíveis imediatamente, nem há lesões diagnosticáveis por exames laboratoriais, como electroencefalogramas, raios-X e outros — nestes casos, os sintomas são mais ligeiros. Mas pode haver manifestações cognitivas, emocionais ou comportamentais, e podem verificar-se doenças e transtornos do humor.

Ivan Lopez alistou-se no exército em 2008 — mas já servia na Guarda Nacional de Porto Rico desde 1999 — e cumpriu uma missão de quatro meses no Iraque, em 2011. Fez parte dos últimos soldados americanos naquele país. Mas não participou em combates nem há registo de que tenha sofrido ferimentos, garantiu John McHugh. Na altura em que Lopez esteve em Bagdad, os soldados dos EUA estavam acantonados nas suas bases, já não iam em patrulha. Ele era condutor de camião.

Mesmo assim, estava a ser avaliado clinicamente para a possibilidade de sofrer de transtorno de stress pós-traumático. Tinha sido visto pela última vez por um psiquiatra há um mês, sem que se considerasse que tinha tendências suicidas ou violentas.

Por isso os militares não conseguem explicar por que é matou três pessoas e feriu 16, três delas com gravidade, antes de se matar. Continuava a trabalhar em Fort Hood, a base de onde partem a maioria dos soldados americanos que vão para o Iraque ou para o Afeganistão.

Um jornal de Porto Rico diz que Lopez poderia ter discutido com alguém na base; que a sua mãe morreu recentemente, e que o exército não lhe queria dar licença para ir ao funeral. O comandante de Fort Hood, o general Mark Milley, disse que "há fortes possibilidades de ter havido uma discussão com outro militar ou militares" antes de Lopez ter começado a disparar, diz a BBC. "Mas não temos nada definitivo por agora", sublinhou.

São pequenas histórias, que talvez possam contribuir para esclarecer o drama, ou não.

O massacre do cabo Lopez é mais uma história que relaciona os cuidados de saúde mental com os casos de violência com armas de fogo nos EUA — uma relação que se tem tornado repetitiva. E por vezes tendo os militares também como pano de fundo, como em Setembro, quando um homem armado abriu fogo em Washington num edifício da Marinha, matando 12 pessoas e ferindo quatro, antes de ser morto pela polícia. Soube-se depois que sofria de problemas mentais.

“Um passo positivo seria tratar melhor as pessoas com doenças mentais, uma vez que isso parece desempenhar um papel importante na maioria dos assassínios em massa, e não apenas os que acontecem em contexto militar”, comentou à Reuters Chrissie Jennette, a mulher de um médico de urgências que estava a tratar os feridos em Fort Hood.

Muitos doentes mentais sem tratamento acabam nas mãos da polícia, e a sofrer violentamente. No complexo prisional de Rikers, em Nova Iorque, um dos maiores do país, 40% dos presos têm uma doença mental diagnosticada, noticiou em Março o New York Times e essa proporção duplicou nos últimos oito anos.

O resultado deste crescimento desmesurado dos prisioneiros com doenças mentais é o aumento da violência, pois não há pessoal habilitado para lidar com eles nem sequer uma cultura adaptada a isso nas instituições, onde há outros presos muito violentos — por exemplo de gangs. Desde o Ano Novo, diz o jornal nova-iorquino, pelo menos 12 prisioneiros de Rikers foram esfaqueados ou sofreram outros ferimentos graves.      

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