Gérard Mortier: "Visionário", "gigante", "simplesmente o melhor"

Robert Wilson, Paolo Pinamonti, Joan Matabosch, Riccardo Mutti e Peter Sellars reagem à morte do importante director de ópera belga.

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Gérard Mortier PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP

A morte do director de ópera Gérard Mortier, domingo aos 70 anos em Bruxelas, está a ter eco na imprensa de todo o mundo e várias figuras da cena teatral e da ópera, como Robert Wilson ou Paolo Pinamonti, reagiram ao desaparecimento de “um gigante, livre de compromissos” e assinalaram que o director artístico “nos ensinou a todos que dirigir um teatro é, sobretudo, um acto de responsabilidade cultural e civil”.

Num texto escrito à mão para o diário espanhol El Pais, Robert Wilson, artista e encenador, dizia no domingo à noite que o gestor cultural foi “inigualável na sua visão das artes plásticas, da música, da poesia, do drama, da literatura e da ópera. Comissionou novos trabalhos com um profundo conhecimento do passado”, diz ainda Wilson, que remata: “Ele era, simplesmente o melhor”.

No mesmo jornal, Paolo Pinamonti, director do Teatro da Zarzuela – e que na semana passada foi apresentado como consultor para a programação do Teatro Nacional São Carlos, em Lisboa –, passa em revista a vida e obra de Mortier, que considera ter “deixado uma profunda marca que perdurará no tempo como uma etapa importante na história do teatro musical”. Pinamonti identifica em Mortier, que nasceu em Gand, Bélgica, em 1943, “a profunda consciência de que a grande tradição do teatro musical europeu não podia e não devia renunciar a dialogar com a nossa contemporaneidade”.

Gérard Mortier ocupou o cargo de director do Teatro Real de Madrid de Janeiro de 2010 até Setembro de 2013, posição que abandonou por doença, mas manteve-se como conselheiro artístico do importante teatro espanhol até à sua morte. O seu substituto, Joan Matabosch, descreve-o como alguém que “concebia a ópera como um produto genuinamente artístico, capaz de expressar emoções por oposição a um entertainment decorativo, vazio, auto-complacente com a sua glória passada e perfeitamente prescindível”.

Matabosch, num texto também para o El Pais, reconhece o “legado extraordinário” que o gestor artístico deixou nas instituições que tocou, como o Théâtre de la Monnaie de Bruxelas, o Festival de Salzburgo, o Festival de Ruhr, a Ópera de Paris e o Teatro Real de Madrid, lembrando que Mortier “se sentia cómodo na polémica” e que até ao limite das suas forças acompanhava diariamente o que se passava no teatro madrileno. Na tarde de domingo, o Teatro Real dedicou a interpretação de Alceste, de Gluck, a Gerard Mortier, e assinalou um minuto de silêncio pela sua morte. Além disso, as bandeiras da fachada do teatro foram colocadas a meia haste. No final da actuação, todos os intérpretes e elementos da orquestra dedicaram os aplausos a Mortier.

Também o maestro Riccardo Mutti lamenta o desaparecimento de “um importante representante do mundo do teatro e da cultura” e Peter Sellars, maestro e encenador que sob a direcção de Mortier levou à cena em Madrid The Indian Queen, descreve-o num texto no mesmo jornal espanhol como “um impulsivo visionário” que transformou a ópera numa “atitude”. “Onde quer que estivesse e fizesse o que fizesse, sabíamos que seria emocionante. O seu selo era garantia de desafios, de compromisso, de prazer e de essa classe de aventura nutrida e tornada possível por uma profunda convicção e por um profundo conhecimento”. 

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