Presidente da TAP assume que resultados de 2014 vão ficar abaixo do previsto

Companhia prepara-se para avançar com operação de venda e aluguer dos quatro A340 para criar almofada financeira durante a privatização.

Foto
Fernando Pinto defendeu que privatização é "absolutamente necessária" Miguel Manso

O presidente da TAP assumiu nesta terça-feira que os resultados da companhia de aviação vão ficar abaixo do previsto. “O resultado projectado dificilmente será atingido”, disse Fernando Pinto, explicando que as previsões apontavam para lucros “levemente superiores” aos de 2013 (34 milhões de euros). O gestor brasileiro acrescentou: “Não sabemos se vamos ter lucros”.

Num encontro com jornalistas, o presidente da TAP referiu ainda que, no que diz respeito ao grupo TAP (que agrega não só o negócio da aviação, mas também subsidiárias como Cateringpor, as Lojas Francas e a unidade de manutenção brasileira), “todas as empresas deverão dar lucros, à excepção da M&E Brasil”. No que diz respeito a esta última participada, adquirida em 2005 e que nunca deu resultados positivos, Fernando Pinto referiu que “já deverá chegar próximo da estabilidade no resultado operacional”.

De acordo com o gestor, um dos factores que irá penalizar as contas da companhia de aviação são as sucessivas greves que a empresa tem enfrentado este ano. Os pilotos foram os primeiros a parar, a 9 de Agosto, seguindo-se protestos de quatro dias por parte dos tripulantes, a 30 de Outubro, 1 e 30 de Novembro e ainda 2 de Dezembro. Estes trabalhadores voltam às greves já esta semana, mas afectando apenas a transportadora aérea regional PGA.

Fernando Pinto afirmou que estas acções de luta “estão a virar uma rotina”, sendo “péssimas para a TAP e para os passageiros”. “Cada dia de greve tem um efeito temporal muito mais alargado, fazendo-se sentir às vezes por uma semana inteira”, acrescentou.

Além dos prejuízos directos, que o gestor calculou em 25 milhões de euros usando como base uma estimativa de perda diária de receitas na ordem dos cinco milhões, estes protestos “têm retirado à TAP a participação no mercado. Esse é o risco quando se atende mal o passageiro”, referiu.

Mais uma vez, Fernando Pinto defendeu que as greves devem ser “o último recurso” numa empresa “que opera num mercado competitivo”. O mais prejuízo, disse, “é para cada um dos trabalhadores”.

Tal como o PÚBLICO noticiou nesta terça-feira, está em cima da mesa a marcação de uma greve conjunta por parte de todos os sindicatos que representam trabalhadores da TAP. Neste caso, a paralisação servirá para contestar a privatização do grupo, que o Governo decidiu relançar em meados de Novembro.

Sobre a venda, o gestor brasileiro, que veio para a TAP no ano 2000 com o objectivo de alienar a companhia de aviação à Swissair e viu esse objectivo fracassar, afirmou que “há bons candidatos, credíveis” na corrida. “O parceiro ideal é o que venha ajudar a empresa a desenvolver-se e que possa trazer sinergias”, assim como “capacidade para trazer uma tesouraria sólida”.

A decisão tomada em Conselho de Ministros a 13 de Novembro implica, numa primeira fase, a privatização de 66% do capital da TAP, mas o objectivo é que o Estado saia do capital a médio prazo, prevendo-se a alienação dos restantes 34% num período de dois anos após a assinatura do contrato de venda.

O executivo já recebeu quatro manifestações de interesse na compra do grupo TAP. Nessa lista, figuram o consórcio liderado pelo empresário português Miguel Pais do Amaral e pelo milionário norte-americano Frank Lorenzo, bem como a companhia brasileira Azul, o grupo espanhol Globalia e Gérman Efromovich, que viu a sua oferta ser rejeitada no final de 2012, obrigando o Governo a relançar agora o processo. Mais recentemente, a transportadora aérea brasileira Gol sondou o Governo para obter mais detalhes sobre o processo.

No encontro com jornalistas, Fernando Pinto admitiu que, com a decisão tomada em Conselho de Ministros, “há hoje a hipótese de se ter alargado o número de interessados”, embora não tenha explicitado o nome dos novos potenciais candidatos. E defendeu a privatização do grupo como “absolutamente necessária”. “O problema não é só capital, mas também da dificuldade que hoje existe em gerir uma empresa que está no sector empresarial do Estado” e, por isso, sujeita a limites nas remunerações e na contratação dos trabalhadores, frisou.

Tal como em 2012, o processo de privatização agora em curso vai ter implicações na gestão financeira da TAP, que além das greves foi penalizada pelos sucessivos incidentes e cancelamentos registados no Verão. Se, há dois anos, o grupo teve de recorrer a um empréstimo de 100 milhões de euros da Parpública, agora está a “renegociar [os empréstimos] com as entidades financeiras” e a tomar medidas como a suspensão da renovação da frota da PGA e de ajustes na rede, como a suspensão das rotas de Tulin, Belgrado, S. Petersburgo e Londres-Funchal.

Outro ponto deste plano de acção passa por uma operação de sale and leaseback (venda e aluguer) dos seus quatro A340, a concluir “nos primeiros dois meses do próximo ano”, adiantou Fernando Pinto. O gestor explicou que estes equipamentos “teriam de ser entregues quando viessem os novos [os A350]” e que “era preferível vendê-los agora”.

A tesouraria da companhia também tem sido afectada pela retenção de receitas na Venezuela e em Angola, num total de 130 milhões de euros. Quanto a este problema, o presidente da TAP garantiu que, no mercado angolano, “está a entrar-se na normalidade”. Já sobre o conflito com o Governo venezuelano, que afecta toda a indústria, confirmou apenas os valores avançados pelo PÚBLICO, de que está em causa uma dívida de 100 milhões.

 

 

Sugerir correcção
Comentar