Greves cancelaram mais de 700 voos da TAP num ano recorde de protestos

Dos pilotos aos tripulantes, contando ainda com os impactos da paralisação no handling, a companhia vive um momento de instabilidade interna, enquanto se prepara a privatização.

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Próxima greve afecta companhia regional da TAP, a PGA, já a 12 e 14 de Dezembro Raquel Esperança

As greves que a TAP tem enfrentado desde o início do ano já obrigaram ao cancelamento de mais de 700 voos. Num momento em que o Governo prepara a privatização, a companhia vive um período de instabilidade interna, que culminou no agendamento de vários protestos dos trabalhadores, como já não acontecia há largos anos. Ontem, os tripulantes voltaram a deixar os aviões em terra e já têm nova paralisação agendada, desta vez na PGA, para 12 e 14 de Dezembro.

Os cinco dias de greve que a transportadora aérea já viveu em 2014 começaram pelos pilotos, a 9 de Agosto – dia em que havia 40 mil passageiros com reservas marcadas. Os protestos, convocados para contestar a forma como a TAP está a ser gerida, provocaram a suspensão de 70 ligações.

Em meados de Outubro, os tripulantes anunciaram uma paralisação de quatro dias para exigir o cumprimento do acordo de empresa, nomeadamente a reposição das anuidades, que a companhia suspendeu por causa das medidas inscritas nos orçamentos do Estado.

No primeiro período de greve, a 30 de Outubro e 1 de Novembro, havia 55 mil passageiros com bilhetes comprados e foram cancelados cerca de 145 voos em cada um dos dias. A segunda fase dos protestos, que começou no domingo e terminou na terça-feira, elevou substancialmente o número de aviões que ficaram parados no aeroporto.

Ao contrário do que vinha fazendo, a TAP deixou de revelar o número de clientes afectados e de informar concretamente sobre as ligações suspensas. Tanto para 30 de Novembro, como para 2 de Dezembro, a empresa limitou-se a dizer que iria colocar no ar cerca de 100 ligações, o que significa que houve perto de 180 cancelamentos em cada dia, visto que deveriam ter sido operados 280 voos. Contabilizando os cinco dias de paralisação deste ano, foram cerca de 720 as ligações afectadas.

A transportadora aérea tem estimado que cada dia de greve custa cinco milhões de euros, baseando o cálculo no facto de este ser o valor médio das receitas geradas em 24 horas de operação. No caso da greve dos pilotos, agendada para um período de pico na aviação, a companhia chegou a prever um impacto a rondar os dez milhões. No entanto, as contas não são assim tão simples.

Os principais custos que a TAP tem de suportar com estes protestos estão relacionados com a reprogramação da operação e, sobretudo, com a assistência aos passageiros (alimentação e alojamento, por exemplo). E há ainda uma pequena parte dos clientes que acaba por alterar os voos para companhias concorrentes. Mas a maioria dos passageiros é transferida para ligações na véspera ou nos dias seguintes às greves, mantendo-se a receita dos bilhetes nas mãos da transportadora aérea. Assim, não há dados objectivos sobre o impacto financeiro.

Os serviços mínimos definidos pelo tribunal arbitral do Conselho Económico e Social, na ausência de um acordo entre a empresa e os sindicatos, não têm beneficiado muito a companhia, limitando-se quase sempre a algumas dezenas de voos de e para as ilhas. Tal como aconteceu na greve dos tripulantes, têm ficado também asseguradas algumas ligações a destinos onde há uma forte presença de portugueses, como o Brasil.

A companhia de aviação de médio curso da TAP, a PGA, tem ajudado a garantir as viagens de alguns clientes, mas também esta transportadora será afectada, em breve, por uma paralisação. O sindicato dos tripulantes decidiu agendar dois dias de protestos, a 12 e 14 de Dezembro, igualmente para reivindicar o cumprimento do acordo de empresa.

A concretizar-se, elevará para sete o número de dias de greve que o grupo enfrentou este ano. Isto sem contar com as perturbações ligeiras sentidas na segunda-feira, fruto da paralisação no handling, que uniu pela primeira vez os trabalhadores da Groundforce (detida em 49% pela TAP) e da Portway (que faz parte do grupo ANA).

Trata-se de um momento quase inédito na história da companhia, que quando passou a ser liderada por Fernando Pinto, no ano 2000, viveu alguns anos de paz social. Os tripulantes, por exemplo, já não concretizavam uma paralisação desde finais daquele ano, apesar das sucessivas ameaças que tiveram ainda consequências para as contas da TAP. E os pilotos também já há cinco anos que não agendavam greves. A última tinha sido em Setembro de 2009, provocando o cancelamento de 110 voos em dois dias.

Este período de turbulência interna acontece num momento em que o Governo está a preparar a privatização da companhia. Em meados de Novembro, foi aprovado em Conselho de Ministros o relançamento da venda, depois de a primeira tentativa ter fracassado em 2012 com a rejeição da oferta de Gérman Efromovich.

A intenção é alienar, numa primeira fase, 66% da empresa, com o objectivo de o Estado sair totalmente do capital a médio prazo. Há, por agora, quatro interessados na corrida: o consórcio liderado pelo empresário português Miguel Pais do Amaral e pelo milionário norte-americano Frank Lorenzo, Gérman Efromovich, o grupo espanhol Globalia e a companhia de aviação brasileira Azul.

Tal como o PÚBLICO noticiou na semana passada, outra transportadora aérea do Brasil, a Gol, também já sondou o executivo para obter mais detalhes sobre o processo. Tendo em conta que falta menos de um ano para as próximas eleições legislativas, o Governo deverá saltar a fase de apresentação de ofertas preliminares, passando logo para as propostas vinculativas. A intenção é que o vencedor seja escolhido até ao início do segundo trimestre de 2015.

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