Nem a queda do preço do petróleo nem o BCE salvam a Europa de crescer menos

FMI reviu em baixa as suas previsões para a economia mundial. As fracas expectativas para o investimento afectam em particular a zona euro.

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A entidade liderada por Christine Lagarde reviu em baixa as suas previsões. Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Apenas três meses passados desde as últimas previsões de Inverno, o Fundo Monetário Internacional voltou esta terça-feira a rever em baixa as suas estimativas de crescimento para a zona euro durante este ano e o próximo. Nem mesmo a ajuda que será trazida pela recente descida dos preços do petróleo e pela previsível adopção pelo BCE de novas medidas conseguem evitar que os técnicos do FMI estejam ainda mais pessimistas em relação à forma como irão evoluir as principais economias europeias.

No relatório agora divulgado, e onde são actualizados os números que tinham sido apresentados no passado mês de Outubro, o Fundo aponta para um crescimento da zona euro de 1,2% durante este ano, seguido de 1,4% em 2016. A nova previsão para 2015 fica 0,2 pontos percentuais abaixo daquela que tinha sido lançada há três meses, ao passo que a revisão em baixa efectuada para 2016 se cifra em 0,3 pontos.

A explicação para esta deterioração das exportações está, em primeiro lugar, nos dados que entretanto foram conhecidos para a economia europeia. O FMI lembra que “ o crescimento na zona euro no terceiro trimestre (que ainda não tinha sido conhecido em Outubro) foi mais modesto do que o esperado, principalmente por conta de investimento mais fraco, e a inflação e a as expectativas de inflação continuaram a cair”.  

Perante isto, o Fundo aposta agora numa retoma mais lenta. Isto apesar de dizer que a economia da zona euro até vai ser apoiada nos próximos meses por uma série de factores positivos: “os preços mais baixos do petróleo, uma política monetária mais expansionista, uma política orçamental mais neutral e a recente depreciação do euro”.

O problema é que todas estas ajudas não irão chegar. “Estes factores vão ser contrariados por perspectivas de investimento mais fracas”, afirma o FMI.

Por países, o FMI apresentou dados novos para as quatro maiores economias da zona euro. Na Alemanha, as taxas de crescimento previstas são de 1,2% e 1,5% para 2015 e 2016, o que significa que foram revistas em baixa em 0,2 e 0,3 pontos percentuais, respectivamente.

Em França, a revisão em baixa é mais moderada, de apenas 0,1 pontos em 2015 (para 0,9%) e de 0,2 pontos em 2016 (para 1,3%). A economia da zona euro onde o pessimismo mais aumentou foi a Itália, que tanto em 2015 como em 2016, sofrer uma deterioração das projecções de 0,5 pontos percentuais. A terceira maior economia da zona euro irá apenas crescer 0,4% este ano e 0,8% no próximo. Das quatro economias analisadas individualmente, apenas a Espanha apresenta uma melhoria das previsões face a Outubro. O FMI espera um crescimento de 2% este ano, quando antes apontava para 1,7%.

Para Portugal, o Fundo não apresenta novas previsões. No entanto, o impacto das revisões efectuadas para os seus parceiros da zona euro pode ser decisivo para perceber o que irá acontecer à economia neste ano e no próximo. E se é verdade que o maior destino das exportações portuguesas (a Espanha) até irá crescer mais que o previsto, outros destinos importantes, como a Alemanha e a França, registam uma deterioração de expectativas.

Problemas nos emergentes
A Europa é, mais uma vez, uma das regiões do Globo que mais preocupações gera nos técnicos do FMI. No entanto, está longe de ser a única. Também no Japão e em diversas economias emergentes, regista-se uma revisão em baixa das previsões para 2015 e 2016. No total, para a economia mundial, o FMI prevê agora um crescimento de 3,5% este ano (menos 0,3 pontos que em Outubro) e de 3,7% no próximo (também menos 0,3 pontos percentuais).

Particularmente afectada foi a Rússia, que nos últimos meses viu a sua economia ficar em risco de atravessar uma crise financeira grave. O FMI previa em Outubro que a Rússia cresceria 0,5% durante este ano, mas agora aponta para uma queda do PIB de 3,5%.

Destaque também para o Brasil, para onde o FMI não espera agora mais do que um crescimento de 0,3% em 2015, menos 1,1 pontos do que a previsão anterior.

Pela positiva, destacam-se outra vez os Estados Unidos, a economia mundial que parece estar a conseguir concretizar uma retoma mais rapidamente. O FMI espera que o PIB norte-americano cresça 3,6% em 2015 e 3,3% em 2016, mais 0,5 e 0,3 pontos percentuais respectivamente que em Outubro.

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