Na primeira semana de compras, BCE adquiriu 1700 milhões de euros em dívida privada

Aquisições acima das expectativa dos analistas incidiram sobre bancos do sul da Europa e da Alemanha.

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raghi frisou que ainda há dificuldades nos países da Europa periférica DANIEL ROLAND/AFP

O Banco Central Europeu (BCE) comprou na semana passada 1700 milhões de euros em obrigações hipotecárias aos bancos, batendo as expectativas dos analistas no lançamento do programa de aquisição de dívida privada com que visa combater os riscos de deflação na zona euro e injectar dinamismo numa economia que está estagnada.

O balanço da primeira semana de compras, divulgado esta sexta-feira pela autoridade monetária, mostra que o BCE foi às compras em Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha e conseguiu apurar um valor que fica muito acima dos registos de intervenções semelhantes no passado.

"Isto é maior do que esperavamos", afirmou à agência Bloomberg um analista londrino do Banco Bilbao Vizcaya Argentária, Agustin Martin. "Estes números mostram que o BCE está a ser agressivo na sua política de expansão do balanço", acrescentou o responsável da unidade de research da instituição financeira espanhola.

O programa de aquisição de activos com que Mario Draghi procura evitar que o espaço do euro caia numa espiral deflacionista e numa nova crise económica começou pela aquisição de obrigações hipotecárias, a que os bancos associam, como garantia, créditos que concederam às famílias e às empresas. Existem na zona euro activos elegíveis que ascendem a 600 mil milhões de euros.

Numa segunda fase, o BCE irá começar a comprar também asset backed securities (ABS), os chamados produtos derivados de empréstimos concedidos pela banca. Neste caso, os activos elegíveis ascendem a 400 mil milhões de euros, o que fará com que, no total, o BCE atinja um bilião (milhão de milhões de euros) em compras no mercado.

Depois de ter descido as taxas de juro para um nível perto do zero e de ter disponibilizado liquidez em empréstimos de longo prazo à banca da zona euro, sem que o espectro da deflação se afastasse e o crédito começasse a fluir para a economia, este programa de aquisição de activos pode ser considerado como uma das últimas armas ao dispor do BCE para evitar uma nova crise no euro. A aquisição de dívida de empresas pode estar também a caminho.

Mas a “bomba atómica”, a compra de dívida soberana que muitos analistas consideram ser a solução para os problemas na zona euro, continua a merecer uma firme oposição na Alemanha. O triunvirato constituído pela chanceler Angela Merkel, pelo ministro das Finanças Wolfgang Schauble e pelo líder do Bundesbank, Jens Weidmann não dá sinais de cedência por considerar que a compra de títulos do Tesouro iria fazer relaxar o trabalho de consolidação das contas públicas e adiar para eternidade as reformas estruturais que considera fundamentais.

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