Mais acção, menos palavras

A expressão "quantitative easing" (QE) é hoje, na Europa, menos dissonante do que nos tempos de Trichet. Nesse tempo, quando o BCE se limitava a comprar títulos da dívida pública, essas compras eram convenientemente "esterilizadas" com depósitos dos bancos em contas BCE. De seguida, vendidas as obrigações, procedia-se à delicada "secagem" da economia. A estabilidade dos preços estava assegurada e cumpria-se a missão do BCE. Agora, a lenta recuperação da zona euro com dívida elevada, persistindo inflação baixa, processos de ajustamento severos, elevado desemprego, debate-se a opção por medidas de estímulo à economia (QE).

O BCE pode utilizar instrumentos não-convencionais, quando o standard da política monetária se revela ineficiente. Draghi, afirmou-o, de forma clara! E compreende-se. As perspectivas económicas recentes apontam riscos, do lado descendente, para a zona euro. A evolução dos mercados financeiros, as economias emergentes, a geopolítica, associados à quebra da procura interna, ausência de reformas estruturais e o fraco desempenho das exportações, podem comprometer a retoma frágil. Na França, na Itália, agrava-se a crise. Os Governos temem que as políticas de austeridade de Bruxelas comprometam a precária recuperação. Na Grécia, Portugal e Espanha, surgem ténues sinais e desejos de libertação das garras da troika. É preciso crescimento, emprego e, já agora, um pouco de inflação.

O BCE está preparado. Falta injectar liquidez no sistema financeiro através da compra de dívida não só pública como privada, com criação comedida de moeda e crédito, optimizando a capacidade produtiva não-utilizada para evitar que o desemprego passe a estrutural. Há riscos. Distorção dos mercados, valorização do euro, bolhas especulativas nos mercados obrigacionistas das empresas, subida da inflação. Estimulo à economia (QE), precisa-se! E agir rápido.

Economista

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