Do "Manifesto dos 74" ao relatório dos 4

Um grupo de quatro economistas fez um relatório com propostas concretas para renegociar a dívida.

O tema da reestruturação começou a ser discutido em Março, quando um grupo de personalidades, da direita à esquerda, subscreveu o “Manifesto dos 74”, em que se defendia a renegociação da dívida pública. Na altura, neste mesmo espaço, o PÚBLICO criticou o timing da iniciativa, porque estávamos a escassas semanas de terminar o programa da troika. Agora que o resgate acabou e que Portugal conseguiu garantir o regresso aos mercados, a altura é propícia para voltar a debater o tema, que tem sido tratado pelos líderes europeus como um tema tabu.

A estratégia de meter a cabeça na areia cai por terra quando se espreita e se vê um país como Portugal com um nível de dívida pública que actualmente ronda os 130% e preso às amarras do tratado orçamental. Só mesmo com muito boa vontade e com alguma demagogia pelo meio é que se pode dizer que Portugal vai conseguir honrar os seus compromissos sem condenar a economia a décadas de estagnação.

E não é só cá dentro que se vai reconhecendo que o endividamento excessivo não é um problema que se resolve sozinho. Até o insuspeito Hans-Werner Sinn, presidente do instituto ifo, veio exortar os alemães para a necessidade de se ter de fazer alguma coisa para resolver o problema da dívida dos países periféricos na Europa.

Por cá, depois do "Manifesto dos 74", um grupo de quatro economistas elaborou um relatório em que apresenta propostas concretas para reestruturar a dívida. O relatório terá com certeza algumas falhas, como, por exemplo, a sugestão de impor perdas a detentores de certificados de aforro. Mas é um ponto de partida útil para o debate.

Podemos sempre rebater que esta discussão só é eficaz se for feita a nível europeu e envolver os credores. Mas, como defendeu Hans-Werner Sinn, “quanto mais cedo se encarar a verdade, melhor”. E de algum lado tem de partir o debate.
 

  



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