Barclays despede 14 mil pessoas e sai de Portugal

Operação em Portugal, que emprega 1600 pessoas, será vendida ou simplesmente fechada.

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Barclays irá reduzir 19 mil postos de trabalho em dois anos AFP PHOTO/FILES/LEON NEAL

O Barclays anunciou nesta quinta-feira um profundo plano de reestruturação, que só este ano conduzirá à eliminação de 14 mil postos de trabalho. A estratégia passa pela criação de um veículo que agregará as actividades complementares da instituição financeira, que pretende assim focar-se em apenas quatro grandes áreas de negócio. De fora fica a operação em Portugal, que será vendida ou suspensa.

Para o Barclays Non-Core, uma espécie de bad bank onde serão agregados os activos que o grupo não considera estratégicos ou que não estão a gerar o retorno desejado, serão transferidas, por exemplo, as operações de retalho em Portugal, Espanha, Itália e França. No comunicado divulgado no site da instituição financeira refere-se que o grupo "procurará sair ou liquidar" estes negócios, a médio prazo.


Numa nota interna, a que o PÚBLICO teve acesso, o presidente executivo do negócio de retalho na Europa escreve que se pretende continuar o "excelente trabalho feito até agora", mas isto "independentemente de quem o venha a deter ou a administrar". O comunicado assinado por Curt Hess dá, por isso, a entender que estas actividades deverão ser alienadas.

Depois de uma primeira reestruturação a nível europeu, que levou ao fecho de cerca de 100 balcões e à saída de 400 pessoas em Portugal, o Barclays tem hoje 147 agências no país, onde trabalham perto de 1600 funcionários. 

Fonte oficial do Barclays respondeu ao PÚBLICO que o negócio de retalho na Europa "continua a ser um negócio forte, progredindo no caminho para o crescimento e isso mantém-se inalterado", acrescentando que "o foco do banco continua a ser o de servir os seus clientes, bem como construir um banco premier forte".

Sindicato quer reunião com Barclays

“Surpreendidos, mas não muito”, foi assim que o presidente da Federação do Sector Financeiro (Febase) acolheu o anúncio vindo do Reino Unido na manhã desta quinta-feira. O presidente, Rui Riso, espera que as operações existentes em Portugal sejam compradas por outro banco e que, desta forma, os trabalhadores sejam integrados nessa instituição financeira. Segundo o sindicalista, a federação “irá fazer todos os esforços para que isso aconteça” e, caso não se venha a concretizar uma transferência, irão entregar o caso ao Banco de Portugal para que “tomem conta do assunto”.

A Febase já contactou a UNI Global Union, uma plataforma internacional de sindicatos, com o objectivo de agendar uma reunião com a administração do Barclays em Londres. A intenção é perceber os impactos do plano de reestruturação anunciado pelo banco.

Segundo o presidente da direcção da Febase, o Barclays “ganhou muito dinheiro em Portugal”. No entanto, com a crise, passou a considerar a operação em território nacional "não estratégica”. Rui Riso adiantou que o grupo chegou a empregar 2300 pessoas no país.

14 mil despedimentos este ano

O bad bank, que ficará com activos avaliados em 400 mil milhões de libras (487 mil milhões de euros, ao câmbio actual), terá ainda sob sua alçada uma parte do negócio de banca de investimento do Barclays, bem como "outros activos e operações não estratégicas", lê-se no plano.

Esta decisão fará com que o grupo se concentre em actividades específicas, como o retalho no Reino Unido, o sistema de cartões de crédito Barclaycard, o negócio bancário em África e a banca de investimento. "O Barclays será reposicionado, simplificado e reequilibrado para melhorar o retorno significativamente", refere o comunicado divulgado no site da instituição financeira.

A estratégia elevará o nível de eliminação de postos de trabalho, que o grupo tinha fixado entre dez e 12 mil no início do ano. Para 2014, as previsões apontam para a perda de 14 mil empregos (10% do total), embora este número deva aumentar ainda mais. Só na área da banca de investimento está estimada uma redução de sete mil trabalhadores até 2016.

“Iremos ser um banco internacional focado, vamos operar apenas em áreas em que tenhamos capacidade, escala e vantagem competitiva”, afirmou Anthony Jenkins, presidente executivo do Barclays, numa conferência com analistas que ocorreu na manhã desta quinta-feira, noticiou a BBC.

Este anúncio surge depois de o banco ter registado uma queda de 5% nos lucros no primeiro trimestre deste ano. O negócio de banca de retalho fora do Reino Unido melhorou os resultados, mas ainda assim gerou um prejuízo de 69 milhões de libras (cerca de 84 milhões de euros).

Apesar deste anúncio, as acções do Barclays não sofreram impactos negativos e continuam nesta quinta-feira a valorizar-se mais de 5%. com Salomé Ferreira

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