Voluptuosidade, fantasia e subtileza
Christina Pluhar demonstrou a sua capacidade de reinventar a interpretação de obras do período barroco, neste caso de composições do barroco italiano do século XVII em torno da figura da Virgem Maria.
O programa deste concerto foi maioritariamente constituído por peças que aliam a figura maternal da Virgem Maria à retórica musical do barroco italiano do século XVII. A expressividade da monodia e do virtuosismo vocal e instrumental do barroco inicial foi intensificada pelos arranjos de Pluhar e pela superior qualidade interpretativa do seu grupo, que transpirou cumplicidade e maturidade musical ao longo de todo o concerto.
O recurso ao princípio do baixo ostinato percorreu a maior parte das peças do concerto, incluindo as peças instrumentais. De entre estas, destacam-se duas Ciacconas e uma Passacaglia, cuja interpretação aliou o virtuosismo instrumental ao carácter de dança que está na origem destas peças. A violinista explorou uma grande variedade de recursos técnicos e expressivos demonstrando assim um domínio total do princípio de variação, fundamental na execução deste tipo de obras.
A subtileza da gestão dos recursos tímbricos é uma característica que se evidenciou ao longo do concerto em vários aspectos: a inclusão de cinco peças instrumentais num programa predominantemente vocal e sacro, o recurso a instrumentos solistas diversificados (violino, corneto e saltério), as intervenções do percussionista (que toca apenas em algumas peças) e a frequente alternância do órgão positivo com o cravo.
A soprano Nuria Rial teve um desempenho excelente ao longo de todo o concerto, aliando elevada capacidade técnica, enorme poder expressivo e grande maturidade estilística. Como já foi referido, os restantes solistas (violinista, cornetista e salterista) tiveram um desempenho idêntico.