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Dois músicos estrangeiros a residir em Portugal afirmam-se na cena nacional.

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Jazz exótico e electrificado, que surpreende, que vai além do cânone comum

Dois músicos estrangeiros, residentes há já algum tempo em Portugal, mostram uma música que não se fecha no jazz mais puro, partindo deste para se abrir a cores sonoras mais vastas.

Francesco Valente, italiano, reside em Lisboa há quase duas décadas, com um leque de trabalho que vai do jazz à world music. Ao leme do seu grupo, o MoFrancesco Quintetto, estreou-se com o disco Maloca, onde cruzava várias estéticas com originalidade. Este segundo álbum, editado pouco tempo após a estreia, funciona em complemento, como um segundo volume: o espírito das músicas do mundo invade um registo que, tendo como âncora central o jazz, atravessa diversos ambientes, da América Latina às arábias, indo ainda buscar ideias às tradições mediterrânica e ibérica. Sobretudo instrumental, o álbum inclui duas relevantes participações vocais: a excelente Aline Frazão canta um tema, sendo outros dois interpretados por Jaco Loredo em registo spoken word. No contrabaixo e baixo eléctrico, Francesco Valente é o esteio do grupo, ao leme de uma música com ginga e groove. Destaque ainda para a importância dos sopros: Johannes Krieger no trompete, Guto Lucena e João Capinha nos saxofones.

Oriundo de Salvador da Bahia e radicado no Porto desde 2006, Gileno Santana é um trompetista em pleno processo de afirmação. Integra a excelente Orquestra Jazz de Matosinhos e tinha já editado um disco de estreia que passou relativamente despercebido (Início de 2011, disponível online). Este novo Metamorphosis, editado pela label italiana Caligola Records, é um passo firme na sua confirmação como instrumentista e compositor com ideias frescas. Neste disco, Santana conta com a companhia de músicos do Porto: Miguel Moreira (guitarra), Joaquim Rodrigues (teclados), José Carlos Barbosa (baixo elétrico) e Mário Costa (bateria); conta ainda com o percussionista convidado Andrés Tarabbia, que entra em metade dos temas do álbum. Embora Santana afirme, no título de um tema, I’m not Miles, é o fantasma de Miles Davis que assombra esta música. Miles está presente não apenas pelo som refinado do trompete, tecnicamente depurado, como também pela sujidade eléctrica que atravessa o álbum, reminiscente do seu período jazz-rock. Este é um jazz exótico e electrificado, que surpreende, que vai além do cânone comum. Venham mais destes.

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