Ravel sentimental

Um disco desigual que não chega para ganhar um lugar na discografia Ravel

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A pianista francesa Vanessa Wagner (Rennes, 1973) notabilizou-se em anos recentes pela boa receptividade da crítica, especialmente a francesa, às suas gravações. Detentora de um primeiro prémio do Conservatório de Paris, o seu currículo impressiona mais pelos grandes mestres com que estudou do que pelo palmarés de certames internacionais. Dito isto, convém recordar que alguns dos grandes pianistas da actualidade evitaram os concursos internacionais mas, regra geral, destacaram-se mais cedo.

O seu mais recente CD é dedicado a Ravel (1875-1937) e ao nível do repertório incluído tem como ponto de maior interesse a surpreendente transcrição para piano solo da suite Ma mère l’Oye, geralmente interpretada na versão original para piano a quatro mãos. Apesar de no disco não haver referência à autoria da transcrição, esta deve ser de Jacques Charlot, afilhado do editor de Ravel, Durand, e dedicatário póstumo do Prelúdio do Tombeau de Couperin (dedicado aos amigos falecidos na Primeira Grande Guerra). A propósito deste detalhe de informação, diga-se que as notas que acompanham o CD são de uma inutilidade completa, resultando num ensaio sobre a obra para piano de Ravel sem qualquer interesse. 

Já o pianismo de Vanessa Wagner é muito mais interessante. Senhora de uma técnica sólida e de dedos muito claros, o que lhe permite alguns malabarismos impressionantes em Gaspard de la nuit, transmite na sua forma de tocar uma certa tristeza que muito se adapta a algumas das músicas. É essa a sua maior qualidade, a de transmitir emoções. No entanto, estas são mais conseguidas em atmosferas nostálgicas. Falta um pouco de emoção nos sentimentos mais extrovertidos, como seria expectável nas Valses nobles et sentimentales. Uma interpretação escorreita da Pavane completa um disco que não desilude mas que, por alguma desigualdade entre as obras, também não encanta.

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