“Prêt-a-Porter” está a vestir-se para o CCB

Foto
Captura de ecrã do vídeo de um dos ensaios antes do espectáculo no CCB DR

Quem olha para os sete intérpretes de “Prêt-a-Porter” vê dança. Não se vêem as cadeiras de rodas nem as canadianas e os andarilhos que lá estão, vêem-se movimentos estudados e executados ao som da música, adrenalina e dedicação que o trabalho de bailarino exige. Porque é isso que eles fazem, eles dançam. E, neste momento, dançam na recta final e a título de ensaio para o espectáculo que será apresentado no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, na próxima terça-feira, dia 26.

“A ideia do ‘Prêt-a-Porter’ foi pegar na metáfora da moda como meio de expressão da individualidade e da construção da identidade”, explica o director artístico, Rafael Alvarez. Em palco, a alta-costura serve para pensar o corpo na sua diversidade e capacidade de transformação na relação com o mundo. “Pensámos também na normatividade e pusemos em paralelo as duas ideias”, acrescenta.

Para a concretização deste projecto, o grupo Plural - Núcleo de Dança Contemporânea associou-se à Fundação LIGA e à Escola Superior de Dança (ESD). David Mendes, Frederico Augusto, Pedro Almeida e Margarida Sousa são os intérpretes com alterações de funcionalidade e utentes da fundação. A eles juntaram-se Joana Silva, Sara Correia e João Pereira, recém-licenciadas da ESD. Ensaiam todos no ginásio da LIGA e dão forma ao ‘Prêt-a-Porter’.

A menos de uma semana do espectáculo, já vestidos de cinzento (a que, em palco, se juntará o amarelo-lima), alguns com saltos altos, mini-saias ou vestidos compridos, afinam-se alguns pormenores. “Inspira e cai! Inspira e cai!”, coordena Rafael Alvarez, enquanto Sara e Rodrigo se deixam fluir em direcção ao chão. Os restantes investem em movimentos cruzados, unindo diferentes corpos e experiencias artísticas, um dos maiores desafios da construção da encenação.

Coreografar a diversidade

“É olhar para corpos diferentes com diferentes histórias de dança e trabalhar com esta diversidade como material coreográfico”, concretiza o director artístico, que acumula as funções de coreógrafo e figurinista.


Pedro precisa da cadeira de rodas para se deslocar, Sara não. No entanto, é ele que a empurra pelo CCB imaginário que a Plural tem recriado na fundação. Margarida diz que é o “tudo ou nada” quando arrisca e se esquece das limitações e das canadianas “Faz-me muito bem, liberta-me. Aqui estou com a cabeça centrada na dança simplesmente”, afirma com convicção.

Para os recém-licenciados da ESD, a diferença não interfere numa primeira experiência profissional que se revelou positiva “Vamos trabalhando, percebendo o que pode acontecer, estabelecendo relações e conhecendo cada intérprete”, conta Joana. Sara fala num desafio constante: “Estamos sempre a tentar agir da melhor forma a nível artístico e na relação com os outros”, acrescenta.

Quando trabalha com o Plural, cujas raízes remontam a 1955, Rafael não segmenta a igualdade, mas concentra-se nos contributos de cada um. “Não me centro na deficiência ou nas diferenças da funcionalidade de cada corpo, interessa-me o que cada um pode trazer para a criação”, declara o coreógrafo.

Trazem visões artísticas diferentes, alegria e dedicação, mas também algum nervosismo com a apresentação do espectáculo quase à porta. No entanto, a ansiedade vai ter de esperar porque, até lá, “ainda há muita coisa para fazer”, lembra Margarida.

No dia 26, o encontro está marcado às 21h30 no CCB. A ideia é dar visibilidade ao processo de criação e “atrair um público diverso, não só da área da dança ou da reabilitação”, sublinha Rafael Alvarez. “Mas o importante é desfrutar”, acrescenta Joana.

Sugerir correcção
Comentar