Portugal ainda não tem representação oficial para Veneza

Em 2015, a mais importante bienal de artes plásticas do mundo inaugura mais cedo: 9 de Maio, em vez de 1 de Junho. O Canadá, por exemplo, apresentou os seus representantes em Janeiro, anteontem foi a vez da Turquia

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A instalação "Guests", de Krzysztof Wodiczk, participante na Bienal em 2009 Tony Gentile/REUTERS

A nove meses da inauguração da 56.ª edição da Bienal Internacional de Artes de Veneza a Direcção-Geral das Artes (DGA) não tem ainda definidos o comissariado nem o artista que fará a representação oficial portuguesa.

Depois do atraso histórico no anúncio de João Maria Gusmão e Pedro Paiva para a edição de 2009 e do polémico processo de escolha de Joana Vasconcelos para a de 2013, em 2015 volta a estar em causa o tempo de preparação para a mais antiga e importante bienal de artes plásticas do mundo.

Por email, anteontem à tarde, o director-geral das Artes, Samuel Rego, limitou-se a confirmar a inexistência de quaisquer escolhas até agora. Acrescentando como comentário único: “No tempo oportuno, a Direcção-Geral das Artes dará a conhecer o comissário da representação oficial portuguesa.” Na mesma altura, o PÚBLICO pediu declarações ao gabinete do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. Até à hora de fecho desta edição, este não deu qualquer resposta.

Foi precisamente com Barreto Xavier à frente da DGA que se deu o maior atraso de sempre no anúncio para a representação oficial portuguesa. Só em Janeiro de 2009, já a menos de seis meses da inauguração de Veneza, Barreto Xavier anunciou a escolha daqueles que  viriam a ser os mais jovens representantes portugueses de sempre na bienal, a dupla constituída por João Maria Gusmão, então com 29 anos, e Pedro Paiva, então com 31. Antes desse anúncio, e durante longos meses de especulação e controvérsia, estivera na mesa o nome do cineasta Pedro Costa, com quem as negociações acabaram por cair por terra. Simultaneamente, começara a correr o nome de Joana Vasconcelos, que viria a ser a escolha de 2011.

Depois de em 2005 o Museu do Chiado lhes ter dedicado uma exposição antológica - Intrusão: The Red Square – e de em 2008 terem feito a sua maior exposição de sempre em Portugal – ocupando a Cordoaria Nacional –, à época, João Maria Gusmão e Pedro Paiva tinham já uma carreira em franca consolidação, tanto em termos nacionais como internacionais. Representaram, assim mesmo, uma escolha fora da norma do que vinham sendo as presenças portuguesas em Veneza, invariavelmente asseguradas por artistas consagrados ou, pelo menos, em momentos mais tardios de carreira – os casos de Julião Sarmento, em 1997, Jorge Molder em 1999, João Penalva em 2001, Pedro Cabrita Reis em 2003, Helena Almeida em 2005 e Ângela Ferreira em 2007. Não tão fora dos padrões habituais, no entanto, quanto a polémica escolha de Joana Vasconcelos em 2011.

Em vez do habitual processo de nomeação, primeiro, de um comissário, que seria o responsável pela escolha do artista a representar o país, Joana Vasconcelos foi assumida como uma escolha directa do Governo, por via do então titular da pasta da Cultura, Francisco José Viegas. O Trafaria Praia, o cacilheiro que a artista atracou em Veneza, foi também uma forma de resolver um buraco na participação nacional: a falta de um pavilhão onde apresentar uma mostra – um problema que continua por resolver.

Em Março, na apresentação pública da participação portuguesa da Bienal de Arquitectura também de Veneza – homóloga em relevância sectorial à bienal de artes plásticas –, Barreto Xavier explicou que se “continua a estudar a existência de um espaço físico”, um pavilhão nacional à semelhança dos que têm dezenas de outros países. “As limitações financeiras existem e são do conhecimento de todos”, disse. Na mesma altura, Samuel Rego afirmou: “Achámos que era mais interessante alocar os meios financeiros ao projecto do que a um espaço que ficaria vazio por falta de verbas.” Desde então não houve declarações públicas sobre a questão.

Entretanto, diferentes países com diferentes pesos em Veneza vêm anunciando os seus representantes oficiais. Em Janeiro, por exemplo, o colectivo BGL foi anunciado como representante do Canadá em 2015. Em Março, Sarah Lucas foi anunciada como representante oficial do Reino Unido. No mês seguinte os Estados Unidos anunciaram Joan Jonas como sua representante e, na mesma altura, a Finlândia anunciou a dupla IC-98. No princípio de Julho Danh Vo foi oficializado como representante da Dinamarca. Pouco depois Filip Markiewicz foi anunciado como o representante do Luxemburgo. E esta semana foi a vez de a Turquia anunciar o nome de Sarkis como o primeiro artista que ocupará o novo pavilhão nacional, cujo contrato de aluguer por 20 anos Istambul assinou no princípio do ano.

Em 2015 a direcção artística da bienal está a cargo de Okwui Enwezor. Director da Haus der Kunst de Munique desde 2011, Enwezor, que nasceu na Nigéria em 1963 e se mudou para os Estados Unidos na década de 1980, será o primeiro responsável pela bienal de origem africana.Quer como teórico quer como curador, é conhecido sobretudo pelo seu pensamento em torno das questões ligadas ao colonialismo e pós-colonialismo, nomeadamente através de reflexões sobre a arquitectura e o urbanismo modernistas em África, temas a que deu grande visibilidade no mundo das artes visuais em 2002, quando assumiu o comissariado da importante Documenta, de Kassel.

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