Pasolini, o blasfemo, em Veneza

Um filme que se centra no último dia de vida do poeta e cineasta italiano por Abel Ferrara.

Foto
Willem Dafoe em Pasolini Willem Dafoe em "Pasolini"

O novo filme de Paul Thomas Anderson, Inherent Vice, adaptação de Thomas Pynchon, com Joaquin Phoenix, volta a estar em competição no Festival de Veneza? E a contribuição de Tim Burton para o Natal de 2014, Big Eyes, com Amy Adams e Christoph Waltz? O regresso a Far from the Madding Crowd, romance de Thomas Hardy, antes filmado por John Schlesinger, com Julie Christie e Terence Stamp, e agora com Michelle Williams, Carey Mulligan, Juno Temple e Matthias Schoenaerts, filmados por Thomas Vinterberg, vai ao Lido? Há o novo de Woody Allen, Magic in the Moonlight, com Colin Firth e Emma Stone, e há mais um Malick, Knight of Cups, um filme sobre o mundo do cinema, com Christian Bale.

A imprensa internacional começa a avançar com os possíveis seleccionados para os festivais que se seguem a Cannes – Veneza e Toronto, concretamente. Mas há um título que, confirmou o seu realizador ao Ípsilon, é certo no festival italiano: Pasolini, e o realizador é Abel Ferrara.

Não é um biopic, será um objecto compósito que se centra no último dia de vida do poeta e cineasta italiano, misturando “cenas” de Petróleo, o romance, publicado postumamente, em que Pasolini trabalhava quando foi assassinado em 1975, e da rodagem do seu último filme, Saló.

Foi o próprio Ferrara que confirmou esta presença quando em Cannes apresentou Welcome to New York, o filme em que fez de Dominique Strauss-Kahn uma personagem uivante do seu universo – não um homem em busca de redenção, antes um homem que prescindiu da ideia de Deus, que prescindiu “dos espelhos e dos reflexos, como num filme de vampiros”, para não prescindir de si próprio, da sua angústia e das suas pulsões.

Foto
Ferrara quando falava sobre "Pasolini" no último Festival de Cannes

Ferrara concede que pode haver, por isso, um elo de blasfémia a aproximar as personagens dos seus dois últimos filmes, aquela que era interpretada por Gerard Depardieu (Strauss-Kahn) e a que é interpretada por Willem Dafoe (Pasolini). “A blasfémia é uma forma de ser ele próprio”, dizia Ferrara. “Pasolini era um homem que passou a sua vida em tribunais. Não gostava do que se estava a passar. Fê-lo até morrer. Era a expressão dele próprio, era uma forma de não se negar.”

A competição do Festival de Veneza (27 de Agosto a 6 de Setembro) já tem presidente do júri, o compositor Alexander Desplat. Sucede a Bernardo Bertolucci.

Sugerir correcção
Comentar