O progressivo desaparecimento de uma personagem

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E se um dos últimos filmes de Philip Seymour Hoffman tivesse sido um dos lá mais do início, Jogos de Prazer, de Paul Thomas Anderson, ou Felicidade, de Todd Solondz, em vez de O Homem Mais Procurado? Como é que a morte do actor “investe” pelo olhar do espectador que vê este filme?

Dito de outra forma: aquilo que Anton Corbjin parece filmar, o progressivo desaparecimento de uma personagem (plano final desta adaptação do romance de John Le Carré), é mesmo a vertigem de uma natureza trágica que o filme conseguiu agarrar, e que nele se adensa por mérito próprio (do filme), ou esta personagem em fuga, que mal parece conseguir entrar, é apenas o resultado de um formato de convenção em dificuldades que obriga as personagens/actores a fazerem figuras de convidados do seu próprio show e o resto é, afinal, a memória do espectador, aquilo que ele sabe sobre Philip Seymour Hoffman, a ajudar? Dificilmente se poderá responder a isto, pode-se suspeitar. Que (e isto sem cinismo) O Homem Mais Procurado “beneficia” com a morte de Hoffman; a sua “qualidade” é, se calhar, o resultado de um “defeito” – se olharmos para o lado de Hoffman, vemos o mesmo, em mais desassombrado e esquálido, porque sem possibilidade de alimentado a tragédia, vemos Willem Dafoe, actor/personagem também com existência intermitente. 

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