O eterno Adorno

Adorno desdenha os títulos, interessando-se apenas pela bondade dos livros.

O maior mal da cultura popular, que é a vigente e tiranicamente minoritária, é afugentar os leitores bons e inteligentes dos escritores bons e inteligentes.

Um exemplo escandaloso é a obra de Adorno. Adorno era um leitor bibliófilo e bibliomaníaco. As Notem zur Literatur, traduzidas para inglês por Shierry Weber Nicholsen para Notes To Literature, são uma fonte infalível da alegria da curiosidade.

Adorno mostra que o título de um livro não interessa: o que interessa é que o livro seja bom. Numa crónica posterior, visitando uma feira do livro, lamenta que as capas dos livros se tornaram anúncios dos mesmos. E discorre sobre o sentido correcto dos títulos nas espinhas dos livros.

A delícia de Adorno é a contradição não só não evidente como convidativa. Adorno não filtra – e muito menos combina – os pensamentos. Nem tão-pouco os separa das emoções tácteis e imaginativas que sente.

Adorno desdenha os títulos, interessando-se apenas pela bondade dos livros. Mas, queixando-se das capas e da maneira como despromovem os "conteúdos", acaba por revelar-se vulnerável ao grafismo no sentido estético que pode ter.

Adorno é um pensador e escritor que dá um grande prazer ler. Deve ser esse o único critério para quem gosta de livros e de ler. A mudança do mundo é secundária. Primeiro vem o prazer de ler e pensar: de pensar que está bem escrito e de ler o que foi bem pensado.

Os livros bons são os que sobrevivem da política, boa ou má. Ainda bem.

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