Imitação

Pena que Dan Deacon se tenha perdido a tentar encontrar a canção pop perfeita.

Foto
Baltimore

Dan Deacon é um dos poucos músicos a resgatar aquele sentimento que, nos anos 50 e 60 do século passado, animou tanto amantes da música pop. Estava tudo a começar. O entusiasmo contagioso, quase ingénuo, que fez agitar os corpos antes da vampirização trazida pela publicidade e pelos negócios. A celebração juvenil da dança que, durante décadas, incomodou tantos bem-pensantes. Enfim, o toque pela música e a sua promessa de uma libertação. A electrónica de Dan Deacon acolheu muito bem esse optimismo, com o seu culto da festa, da repetição, de melodia curtas e agradáveis. Quem já ouviu Acorn Master (2006), Spiderman of The Rings (2007) ou Bromst (2009) concordará com esta observação, mas o nova-iorquino nunca se limitou a fazer (mais) música pop. E por duas razões: primeiro, porque entendeu sempre a electrónica como um género que aproxima, não que separa. Nas suas mãos, é música gregária, feita para toda a gente. É (o) fim e não meio. Segundo, porque deixou que outros estilos (o noise, o rock) entrassem na música electrónica, e a moldassem com as suas formas e estruturas. E o resultado desse fazer tem sido bastante entusiasmante.

Gliss Riffer

, contudo, não empolga. Dan Deacon imobilizou-se diante de uma fórmula, ficou preso num

loop

e, agora, socorre-se de convenções familiares, como a voz “mecanizada” ou tratada em

Feel the lightning

e os refrães doces ou infantilizados de

When I was done dying

e

Learning to relax

. O mais grave, todavia, é a imitação invejosa que conquistou várias faixas.

Mind on fire

soa muito a Arcade Fire, tanto quanto

Learning to relax

se confunde com o ronronar dos Air. Cruz credo. E nem a trepidação dos graves ou a velocidade que os sintetizadores soltam os salva da redundância e do esquecimento. É pena, porque todas começam muito bem, mostrando o talento do músico para manipular os sons e usar o

sampler

.

É caso para dizer que Deacon devia ter apostado num disco experimental organizado num mosaico de sons, em vez de perseguir a canção pop perfeita. Existem vislumbres dessa possibilidade no interior de três temas. Em Meme generator, seduzida por um langor inédito que os Tangerine Dream gostariam de ter descoberto (nem os coros femininos a estragam). E, sobretudo, nos dois momentos finais que levam Gliss Riffer para outros lugares, bem mais interessantes: Take it to the max sugere uma homenagem a Steve Reich que se conclui num crescendo fantástico e indisciplinado de padrões e riffs. Steely blues começa sob um tom sinistro para iniciar uma dança violenta (ouvem-se batuques ao fundo) que se calará com a solidão dos sintetizadores, até ao silêncio final. São estes os melhores momentos do disco, porque se furtam à tentação de fazer o que outros fazem.

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