Fiesta pimba

Um disco destes, por muito sucesso de vendas que possa ter, só pode ser um acto de desespero comercial combinado com mau gosto

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Gustavo Dudamel é uma das poucas boas notícias desta compilação JORGE SILVA/REUTERS

A ideia é juntar temas festivos e de fácil audição, daqueles que qualquer pessoa que nunca entrou numa sala de concertos e não pensa entrar, ou talvez já tenha ido a um concerto com os Carmina Burana e não sabe se gostou, para atrair ouvintes que na verdade não gostam de música clássica.

A compilação, diga-se, tem algumas belíssimas interpretações como excertos de West Side Story dirigidos pelo próprio Bernstein ou por Gustavo Dudamel. Placido Domingo canta Granada com a sua portentosa voz e a ária Nessum Dorma conta com o saudoso Pavarotti. O disco inclui também o justamente célebre Danzon nº 2 de Arturo Márquez na interpretação de Dudamel que lhe granjeou a fama. Até aqui são as boas notícias. Mas a fiesta 2014 acaba mesmo aqui.

Preparem-se. Estão bem sentados? A segunda faixa do disco é… Ai se eu te pego. A ideia que clama em tantas autarquias nacionais de fomentar o estilo crossover em pops sinfónicos encontra aqui a sua máxima expressão de mau gosto. Mas haverá por certo quem goste disto. E da versão de André Rieu do Bolero de Ravel e tantas outras coisas deste disco, como as músicas bonitinhas do nosso contemporâneo Karl Jenkins. E associar o nome de Jenkins a este disco é uma combinação tão perigosa quanto reveladora da essência da sua música.

Em resumo: em música não é possível agradar a gregos e troianos e este CD, por muito que venda, vai ficar na gaveta de quem o comprar.

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