É bela, a dor do white trash
A música e a voz de Jason Isbell são daquelas entidades que nos fazem amar a América e a sua banda sonora
Podia pôr-se a hipótese de, após
Southeastern, que o tornou nome maior da country, Jason Isbell sentir a pressão de querer agradar ao seu novo e alargado clube de fãs e espalhar-se ao comprido. Mas na realidade isto não tem nada que saber: uma guitarra, dedilhada ou em
strumming, ocasionalmente um violino ou uns coros ou umas teclas ou um solo, e o resto é aquela voz cheia de história e vida e meia-dúzia de frases (invariavelmente sobre aquele tipo de existência em que um sujeito não consegue senão errar e errar e errar) que deviam ser escritas num
post-ite coladas na porta do frigorífico. Um bom exemplo surge em
24 frames, quando Isbell canta “
You thought God was like an architect/
now you know he’s something like a pipe bomb ready to blow”.
é daqueles pedaços de country que nos fazem amar a América: o
strummingarrastado da guitarra, a eléctrica pungente nos agudos e uma voz que parece ter suportado todas as agruras do mundo. É o contraste ideal para o dedilhado clássico de
It takes a lifetime, que abre o disco. É aí que surge pela primeira vez o violino — que aparece de novo mais à frente, em
Something more than free(a canção que dá nome ao álbum), tema em que Isbell faz nova incursão pela vida americana
blue-collar: “
When I get home from work/
I’ll call up all my friends/
and we go bust something beautiful”. É o mais próximo que o disco — contido mas exímio nos arranjos — está do registo
full-band. Pouco importa, Isbell saca petitas do pó: em
How to forget, bastam o
strummingda guitarra e as teclas para se alcançar uma memorável canção sobre as vantagens do esquecimento (“
Teach me how to forget/ teach me how to unlearn a lesson”). Não há que temer: Isbell nunca será um Jason Molina mas, no patamar imediatamente abaixo da americana, é ele que reina.