Celebrar as raízes

Jack DeJohnette celebra o passado com um registo vibrante, fortemente ancorado no presente.

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A bateria de DeJohnette integra notavelmente o mais precioso dos elementos: o silêncio

Jack DeJohnette é um dos nomes maiores da história do jazz, amplamente reconhecido pelas suas colaborações com gigantes como Keith Jarrett, Charles Lloyd, Pat Metheny ou Miles Davis, tendo integrado nomeadamente a banda que gravou o seminal Bitches Brew. Talvez por isso muita gente tenha ficado surpreendida quando, ao ser convidado pelo Chicago Jazz Festival a formar um projecto comemorativo da sua nomeação para o National Endowment of the Arts, optou por reunir um quinteto que celebra as suas raízes ligadas ao jazz mais livre da aclamada Association for the Advancement of Creative Musicians (AACM) de Chicago. Naquela que viria a tornar-se uma reunião histórica e que teve lugar em 2013 no Millennium Park, DeJohnette convidou três colegas de infância na AACM, que viriam igualmente a tornar-se figuras de destaque — Roscoe Mitchell (saxofones e flauta), Henry Threadgill (saxofone alto e flauta) e Muhal Richard Abrams (piano), aos quais se juntaria ainda o contrabaixista Larry Gray, igualmente seguidor dos princípios da associação.

O concerto, registado sob o nome Made in Chicago, revela o triunfo dos princípios do AACM — a promoção de um jazz criativo e original — e dá-nos a ouvir uma música que, bem mais do que homenagem ao passado, representa o pulsar urgente do presente. Ao longo de seis fascinantes temas originais e uma improvisação colectiva, os músicos destilam um jazz orgânico e livre de onde emanam uma alegria e uma empatia fora do habitual. Logo no primeiro tema, Chant, talvez o mais denso e desafiante do registo, torna-se óbvio que não estão preocupados em fazer concessões festivaleiras. Surgindo como um mantra de quase 17 minutos, suga-nos para um vórtice de energia e abstracção onde brilham o saxofone soprano de Mitchell e a bateria de DeJohnette — que é, aliás, um dos pontos fortes da gravação, soando imponente, num raro equilíbrio entre força e subtileza e integrando de forma notável o mais precioso dos elementos, o silêncio. Quando abre o segundo tema, Jack 5, DeJohnette usa um microfone de mão para captar os overtones da bateria, criando a atmosfera perfeita para a entrada de Threadgill. Mas os pontos altos estão reservados para o fim, com Leave don’t go away e Ten minutes, improvisação colectiva que tem afinal... seis minutos.

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