Andrew Garfield será um jesuíta português no próximo filme de Martin Scorsese

Há muito que se sabia que Scorsese ia adaptar Silêncio, de Shusaku Endo, sobre dois jesuítas portugueses que viajam para o Japão no século XVII, numa época em que os cristãos eram perseguidos naquele país. Não se sabia era mais nada. Depois de muitos rumores ao longo dos anos, o filme começa agora a ganhar forma e já tem protagonista, o actor Andrew Garfield, e data de produção, Junho de 2014.

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O 3D "deve ser encarado como um elemento e uma ferramenta narrativos sérios", diz Scorsese Eric Thayer/Reuters

O realizador Martin Scorsese vai filmar Silêncio com o actor Andrew Garfield a interpretar um jesuíta português, noticiou na terça-feira a edição digital da revista Variety. Andrew Garfield, o actor que protagonizou O Fantástico Homem-Aranha (2012) será Sebastião Rodrigues na ficção, um padre jesuíta português, que parte para o Japão na companhia do frade Francisco Garpe, com o objectivo de apoiar os crentes perseguidos e encontrar o seu mentor, o frade Cristóvão Ferreira, que renunciou à fé cristã.

O filme, baseado no livro do escritor japonês Shusaku Endo (1923-1996), Silêncio (Dom Quixote-1990), conta a história de dois jesuítas portugueses que viajam para o Japão no século XVII, uma época marcada pelas perseguições aos cristãos no Japão, o que obrigava os crentes a praticar a sua fé clandestinamente.

O actor Ken Watanabe, que participou em O Último Samurai (2003), assume em Silêncio o papel de intérprete dos sacerdotes, num elenco composto maioritariamente por actores japoneses, como Issei Ogata (que fez de Imperador Hirohito em Sol (2003), o filme de Alexander Sokurov).

Em declarações à revista Variety, Scorsese disse que Silêncio é um filme sobre as raízes da fé religiosa, uma questão que o acompanha desde a infância e que já explorou em filmes como A Última Tentação de Cristo (1988) ou Kundun (1997). Em A Última Tentação de Cristo, que valeu a Scorsese uma nomeação para o Óscar de Melhor Realizador, Jesus Cristo, apesar do chamamento de Deus, é tentado a viver a vida de um mortal.

“É algo que sempre fez parte da minha vida. Para as pessoas que estão de fora é difícil entender o mundo em que eu cresci, o do catolicismo romano na Nova Iorque dos anos 1950. Fiquei tão impressionado que tentei fazer parte desse mundo, mas aos 15, 16 anos percebi que era muito mais duro e complicado do que eu tinha pensado… em termos de vocação”, disse ao site da revista Variety.

Scorsese leu pela primeira vez o romance de Shusaku Endo há 25 anos, quando o arcebispo Paul Moore lho enviou, na sequência de um visionamento de A Última Tentação de Cristo. O realizador recorda que o livro o marcou pela sua “simplicidade complexa” e por se tentar “ libertar dos dogmas e tentar lidar apenas com a essência… da Cristandade, de Jesus". Após ter lido o livro, o realizador começou imediatamente a trabalhar na sua adaptação ao cinema, com o argumentista Jay Cocks, seu colaborador regular. Entretanto interrompido por outros projectos, o guião só ficou terminado em 1996. 

Curiosamente, Scorsese confessou à revista Variety nunca ter visto a primeira adaptação de Silêncio ao cinema, feita pelo realizador japonês Masahiro Shinoda em 1971.

Depois de duas décadas a tentar concretizar a produção do filme, Martin Scorsese, o realizador de The Departed – Entre Inimigos (2006), O Aviador (2004) e Shutter Island (2010), vai começar a filmar em Junho do próximo ano e pretende negociar os direitos internacionais na próxima edição do Festival de Cannes (15 a 26 de Maio), de cujo júri foi presidente em 1998.

Embora tenha admitido à revista Variety que o filme – falado maioritariamente em japonês – se destina a uma plateia mais reduzida do que a dos seus anteriores sucessos de bilheteira – The Departed – Entre Inimigos (2006) e Shutter Island (2010) – Scorsese sugere que Silêncio será também um thriller “no sentido em que eles [as personagens] estão disfarçados”. “Estou interessado nisto [na questão do disfarce], quer se tratem de padres ou de polícias à paisana”.
 

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