As canções que Mandela e a sua luta inspiraram

De Miriam Makeba aos U2, de Youssou N'Dour a Stevie Wonder, vários foram aqueles que celebraram Mandela e que deram voz à combate ao apartheid.

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Principalmente a partir da década de 1980, a luta de Mandela começou a ter banda sonora. A sua libertação passou a ser exigida em canção Rodger Bosch - AFP

Quando as primeiras canções de denúncia surgiram no Ocidente, Mandela já era há muito prisioneiro em Robben Island. Ao boicote de grande parte do mundo do rock e da pop, na década de 1970, seguiram-se as canções. De Gil Scott-Heron, em 1975, aos U2, em 2013, uma lista daquelas que, explícita ou implicitamente, tiveram a figura tutelar de Mandela pairando sobre si.

Gil Scott-HeronJohannesburg

O nome de Nelson Mandela não é referido uma única vez na letra, mas é a sua luta aquela que o músico e poeta americano, cantou em Johannesburg, editada em 1975, um ano antes do massacre de estudantes no Soweto que chamou a atenção do mundo para a ignomínia criminosa do regime do apartheid. Quando editou a canção, Mandela estava há já 13 anos preso em Robben Island.

 

Miriam Makeba e Hugh MasekelaSoweto blues

Gravado originalmente por Hugh Masekela em 1977, ganharia outra ressonância na voz de Miriam Makeba, ex-mulher do trompetista e uma das grandes cantoras e activistas do século passado. A canção, criada por dois expatriados sul-africanos, relata o supracitado massacre no Soweto, em 1976. 


The Specials AKANelson Mandela

A banda inglesa, nome destacado do revivalismo ska britânico na passagem da década de 1970 para a de 1980, levou a sua música ao encontro da tradição sul-africana para juntar a sua voz aos pedidos de libertação de Mandela. Após a edição em 1984, a canção tornar-se-ia um dos hinos da denúncia do regime racista sul-africano.

 
Youssou N'DourNelson Mandela

Um ano depois de os Specials terem feito do líder histórico do ANC o título de uma canção, Youssou N'Dour fez o mesmo. Então jovem estrela da música africana, o senegalês era já um músico muito activo na luta pelo renascimento do seu continente. Em 1985, ano em que organizou um concerto pela libertação de Mandela, dedicou-lhe esta canção.

 
Stevie WonderIt's wrong (Apartheid)

Steve Wonder não podia ser mais directo. O título diz tudo. A canção, editada em 1985, foi gravada com músicos sul-africanos exilados e incluída no álbum In Square Circle. Wonder, preso em Washington nesse mesmo ano durante uma manifestação anti apartheid (Ronald Reagan, então Presidente americano, considerava Mandela um "terrorista" pertencente a uma organização, o ANC, classificada com o mesmo termo), dedicaria o seu Óscar, atribuído a I just called to say I love you, a Nelson Mandela.


Artists Against ApartheidSun City

Sun City era a representação perfeita das desiguldades criminosas da África do Sul do apartheid. Um resort interdito à população negra que oferecia férias de luxo a turistas e onde eram habituais os concertos de artistas de topo, pagos a peso de ouro. Steve Van Zandt, conhecido enquanto guitarrista da E Street (e actor em Os Sopranos), e o DJ e produtor Arthur Baker reuniram à sua volta uma série de músicos para defender o boicote dos artistas a Sun City e para criar algo semelhante a We Are The World, alertando consciências para o apartheid sul-africano.

 
Hugh Masekela Bring Him Back Home

Masekela, novamente. Em 1987, o músico há muito radicado nos Estados Unidos e que víramos, por exemplo, no palco do Montery Pop Festival, 20 anos, assinava uma canção que se tornaria também ela um dos hinos da campanha pela libertação do futuro Presidente da África do Sul. Três anos depois da edição da canção, Mandela transpunha os portões da prisão como homem livre.


Johnny Clegg & SavukaAsimbonanga

Johnny Clegg nasceu em Inglaterra, filho de pai inglês e mãe da Rodésia, actual Zimbabué. Chegou à África do Sul muito jovem e ali fundou, em 1969, os Juluka, banda que enfrentava o regime não só nas letras que cantava, onde se misturavam o inglês e o zulu, mas pelo simples facto de existir – reunia músicos brancos e negros num país em que bandas mistas estavam proibidas de actuar publicamente. Em 1987 encontrávamos no álbum Third World Child a canção Asimbonanga, título que se traduz como "Não o temos visto". Nelson Mandela, claro.

 
Peter GabrielBiko

Em Asimbonanga Johnny Clegg e os Savuka não chamavam apenas por Nelson Mandela. Referiam também heróis da luta pelo fim do apartheid como Steve Biko, Victoria Mxenge e Neil Aggett. O primeiro, morto às mãos da polícia sul-africana, fora transformado aos olhos do mundo em ícone da oposição ao regime quando Peter Gabriel gravou Biko em 1980, alertando consciências para a realidade do grande país africano. A canção era para o assassinado Biko, mas serviu também para chamar a atenção para outros activistas, como o maior de de todos eles, Nelson Mandela.

 
Aswad Set them free

O trio reggae londrino fazia jus à tradição activista do género e editava em 1988 Set them free, canção de denúncia, não só do apartheid mas daqueles que aprovando sanções, lidavam hipocritamente com as mesmas, contornando as restrições. O Soweto, como não podia deixar de ser, é referido logo a início. A necessidade de libertar todos os prisioneiros políticos não demoraria. Mandela estava a dois anos da liberdade.


U2Ordinary love

O filme biográfico Mandela: Long Walk to Freedom teve estreia mundial em Setembro no Festival de Cinema de Toronto. Realizado por Justin Chadwick, é baseado na autobiografia de Nelson Mandela. Os U2 foram convidados para compor uma canção para a banda sonora. O resultado, conhecido há cerca de duas semanas, é Ordinary Love.


 
 
Corrigido às 12h42: No primeiro parágrafo, onde se lia Rhode Island lê-se Robben Island, a prisão onde Mandela foi inicialmente preso em 1962.

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