Todo o universo de Joni Mitchell nas vozes de dez cantoras portuguesas

Um concerto a 14 de Novembro: Amélia Muge, Aline Frazão, Ana Bacalhau, Cati Freitas, Fábia Rebordão, Luísa Sobral, Mafalda Veiga, Manuela Azevedo, Márcia e Sara Tavares.

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A apresentação foi na Livraria Ler Devagar e ainda se ouviu Just Like Me Tiago Machado

São dez vozes femininas que há muito tempo nos habituámos a ouvir. Da música tradicional ao fado, passando pela pop e o jazz. Algumas andam nisto há mais tempo do que outras. Há as que lançaram álbuns este ano e as que há muito não o fazem. Mas, no meio disto tudo, há um ponto de ligação: a cantautora canadiana Joni Mitchell, que a todas influenciou. E todas são Amélia Muge, Aline Frazão, Ana Bacalhau, Cati Freitas, Fábia Rebordão, Luísa Sobral, Mafalda Veiga, Manuela Azevedo, Márcia e Sara Tavares, que se vão juntar em Novembro num concerto inédito, no âmbito do Misty Fest, de tributo a Mitchell. Esta quinta-feira, cinco delas estiveram na Ler Devagar a falar desta homenagem “a uma das artistas mais importantes da música contemporânea”.

Este concerto especial — que contará com Filipe Raposo, ao piano e na direcção musical de arranjos, Carlos Bica, no contrabaixo, e Carlos Miguel, na bateria — só acontece em Novembro, no dia 14, no Centro Cultural de Belém (CCB), mas já foi esta quinta-feira apresentado. Ao final da tarde juntaram-se na livraria da Lx Factory, em Alcântara, cinco das artistas que vão dar voz a Joni Mitchell. Amélia Muge, Aline Frazão, Cati Freitas, Fábia Rebordão e Márcia falaram das expectativas deste concerto especial e não foram embora sem antes cantarem (à capela) Just Like Me, single de 1966.

No dia 14, é certo que esta vai ser ouvida, mas também não serão esquecidos os grandes sucessos como Big Yellow Taxi ou Woodstock. “O resto é surpresa, não podemos estar a revelar tudo hoje. As pessoas precisam e querem ser surpreendidas”, diz ao PÚBLICO Amélia Muge, responsável pelo “grande desafio” da selecção musical para o concerto de Novembro.

“Foi preciso ter em conta vários factores no momento da selecção. Sabíamos, por exemplo, que não podiam falhar os temas mais emblemáticos, e depois também precisámos de encontrar as músicas certas para estas cantoras. Cada uma tem uma tonalidade, uma forma diferente de cantar”, explica Amélia Muge, acrescentando que foi ainda tida em conta “toda a dinâmica que um concerto tem de ter”. “Um concerto tem de ter canções intimistas, momentos mais histriónicos, momentos de partilha entre nós, e tudo isso depende das músicas que escolhemos”, continua.

Para esta compositora, que trabalhou a ideia com a produtora e agência de artistas Uguru, este vai ser um concerto especial. E explica: “É verdade que as pessoas já conhecem estas cantoras, mas também é verdade que nunca as ouviram cantar estes temas”.

Aline Frazão, que editou este ano o álbum Movimento, não teve dúvidas quando foi convidada para este projecto, embora não conhecesse em pleno, como admite, a obra de Joni Mitchell. “Gosto muito deste desafio de cruzar várias estéticas, vários artistas, ainda mais tratando-se de cantoras que admiro bastante e de quem conheço bem o trabalho. Para mim, é uma oportunidade de partilhar o palco com algumas delas”, diz a cantora angolana, explicando que este projecto fez com que mergulhasse na obra da canadiana, actualmente com 69 anos. “Descobri uma obra incrível, completíssima, diversa, e esta descoberta acaba por ser o primeiro retorno deste convite.”

Mitchell, “referência importantíssima”
Quem também não teve dúvidas sobre se deveria aceitar ou não o convite para fazer parte deste concerto foi Márcia, que ainda no final do ano passado gravou River, tema original de Joni Mitchell incluído no álbum Blue, de 1971, com uma série de vozes femininas, entre as quais estavam Luísa Sobral — de quem partiu na altura a ideia e que agora também integra este concerto —, Ana Moura e Rita Redshoes.

“Tudo isto faz imenso sentido. Primeiro, pela homenagem que prestamos à Joni Mitchell, e depois pela recuperação de algumas músicas que estão esquecidas”, diz Márcia, que editou álbum novo (Casulo) este ano, explicando que a música de Mitchell “é uma referência importantíssima” no seu trabalho.

Márcia destaca ainda a transversalidade de Joni Mitchell, que se comprova pela junção destas dez cantoras, todas com trabalho na música muito distinto.

O próprio lado das artes visuais pelo qual a canadiana também é conhecida, uma vez que ela própria desenhava as suas próprias capas, também será evocado no concerto do CCB. Esta parte ficará a cargo do ilustrador e cartoonista António Jorge Gonçalves, que desenhará (desenho digital) ao mesmo tempo que o concerto acontece.

“Os tributos são coisas que fazem falta, a memória das nossas referências nem sempre é muito clara para o público. E nós somos o que somos porque alguém nos ensinou muita coisa e a Joni Mitchell é um desses casos”, conclui Amélia Muge.

Da programação da edição deste ano do Misty Fest destacam-se ainda nomes como Lloyd Cole (Cinema São Jorge, 7 de Novembro), Scott Matthew (CCB, 14 de Novembro; Casa da Música, 16 de Novembro), Ian McCulloch (Casa da Música, 14 de Novembro; CCB, 15 de Novembro) e Waldemar Bastos e Aline Frazão (CCB, 16 de Novembro).

Notícia corrigida às 12h19: O álbum de Aline Frazão editado este ano chama-se Movimento

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