José Luiz Passos é o grande vencedor do Prémio Portugal Telecom de Literatura 2013

Os escritores brasileiros José Luiz Passos, Cíntia Moscovich e Eucanaã Ferraz são os premiados da 11ª edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa

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Eucanaã Ferraz, José Luiz Passos e Cíntia Moscovich
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José Luiz Passos

O romance O Sonâmbulo Amador, do escritor brasileiro José Luiz Passos, é o grande vencedor da 11ª edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, escolhido entre os vencedores de cada categoria - romance, conto e poesia - tendo também recebido o prémio de melhor livro de romance. O anúncio foi feito nesta quarta-feira à noite numa cerimónia realizada no auditório Ibirapuera, em São Paulo, no Brasil.

Os outros livros vencedores da noite foram Essa coisa brilhante que é a chuva, de Cíntia Moscovich, na categoria  de contos, e Sentimental, de Eucanaã Ferraz, na categoria de poesia.

Entre as 12 obras finalistas estava O Filho de Mil Homens, de Valter Hugo Mãe (Cosac Naify), que foi o grande vencedor da edição deste prémio no ano passado. Esta obra concorria à categoria de melhor romance ao lado dos escritores brasileiros Daniel Galera com Barba Ensopada de Sangue (ed. Companhia das Letras, e que em Portugal a Quetzal irá publicar em Janeiro), Miguel Sanches Neto com A Máquina de Madeira (ed. Companhia das Letras) e José Luiz Passos com a obra vencedora O Sonâmbulo Amador (ed. Alfaguara).

O romance escolhido pelo júri conta a história de um funcionário da indústria têxtil pernambucana internado numa clínica psiquiátrica, cujos sonhos se misturam com acontecimentos políticos do fim da década de 1960. É o segundo romance de José Luiz Passos, contista, ensaísta e autor de uma peça de teatro. O escritor, que nasceu em Catende, Pernambuco, em 1971, vive actualmente em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde dá aulas na Universidade da Califórnia.

O livro vencedor na categoria de conto, Essa Coisa Brilhante que É a Chuva, de Cíntia Moscovich (Record), reúne nove contos desta escritora brasileira que nasceu em 1958, em Porto Alegre, e que tem alguma da sua obra publicada em Portugal (o livro de contos Arquitectura do Arco-Íris e o romance Duas Iguais na Bico de Pena por exemplo). No Brasil está presente nas colectâneas 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira (organizada por Luiz Ruffato) e Os melhores contos brasileiros do século (organizada por Ítalo Moriconi) e a editora portuguesa Quasi integrou-a na antologia de contistas portugueses e brasileiros, Putas.

450 livros inscritos

Cíntia Moscovich é jornalista e mestre em Teoria Literária, e tem na cultura judaica um tema recorrente do seu trabalho. A autora era finalista nesta categoria juntamente com A Verdadeira História do Alfabeto, de Noemi Jaffe (Companhia das Letras), O Tempo em Estado Sólido, de Tércia Montenegro (Grua Editora) e Páginas sem Glória, de Sérgio Sant´Anna (Companhia das Letras).

Por fim, o académico e poeta carioca Eucanaã Ferraz recebeu o prémio na categoria de poesia com o seu sexto livro, Sentimental (editado pela Companhia das Letras) que reúne 57 poemas.

O autor, que em Portugal tem a obra publicada na Quasi, nasceu em 1961 e é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro e organizou os livros de Caetano Veloso Letra só e O mundo não é chato. Eram finalistas nesta categoria Formas do Nada, de Paulo Henriques Britto (Companhia das Letras); Porventura, de Antonio Cícero (Record) e Um Útero é do Tamanho de um Pulso, de Angélica Freitas (Cosac Naify).

Os premiados em cada categoria recebem 50 mil reais (cerca de 15 mil euros), quantia a que o vencedor do Grande Prémio Portugal Telecom 2013 acrescenta outros 50 mil reais (15 mil euros).

 
O convívio com a língua portuguesa

 
Quando José Luiz Passos subiu pela primeira vez ao palco para receber o prémio de melhor romance da 13ª edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, retomou o que o poeta Eucanaã Ferraz tinha dito antes dele. “O momento é ao mesmo tempo uma bênção e aterrorizante”. Brincou dizendo que não poderia demorar muito tempo nos seus agradecimentos porque “lá fora, no estacionamento, com o carro ligado, [a actriz] Débora Falabella está esperando por mim.”

Lembrou que são tantas as pessoas por detrás de um livro que ele não teria tempo de agradecer a todas. Explicou que o seu romance, O Sonâmbulo Amador, conta a história de “alguém que ficou para trás de certa maneira congelado no tempo e que tenta se refazer inventando uma história para o próprio eu. Inventando inclusive sonhos. Eu dediquei o livro à minha mãe, à minha irmã e à minha esposa que ficou com os meus filhos na Califórnia onde eu moro há 18 anos. E à minha filha Cecília que me disse por skype, anteontem, que eu ia ganhar o prémio: premonição.”

O escritor contou que para lhe dar sorte “raspou" parte da sua barba que estava ensopada de sangue [numa alusão ao título do livro de Daniel Galera considerado um dos favoritos ao prémio] e "funcionou!”
Não deixou de lembrar que este prémio o honra particularmente porque apesar de viver nos Estados Unidos da América vive num espaço “eminentemente lusófono”.

“O chavão do verso ‘Minha pátria é minha língua' para mim é tão literal e verdadeiro que chega a ser vergonhoso morando há 18 anos na Califórnia onde eu convivo com a diáspora de emigração portuguesa, açoriana, em San Leandro, perto de Berkeley, e em San Jose, no Sul da Califórnia. O contacto com a literatura portuguesa e africana de expressão portuguesa para mim é particularmente quotidiano. E por isso esse prémio significa muito mais do que vocês possam imaginar. Muito obrigado.”


Os diários do pai


Pouco depois, já sentado na plateia, José Luiz Passos viu ainda Zeinal Brava, presidente da Oi e da PT Portugal, olhar para o cartão que tinha em mãos depois de aberto o envelope com o nome do grande premiado da noite e dizer- lhe: “Bom, eu acho que a sua filha tinha mesmo razão. [O vencedor é ] O Sonâmbulo Amador. Parabéns!”

E quando José Luiz Passos voltou ao palco nem sabia o que dizer. Agradeceu a António de Assis Brasil, académico e escritor brasileiro, que o encontrou como professor em Berkeley e leu a primeiríssima versão do primeiríssimo capítulo do seu primeiro romance. Agradeceu ao grande amigo Marcelo Ferroni – seu editor na Alfaguara – cuja mão sensível o ajuda a cada passo. “A ideia de O Sonâmbulo Amador é uma ideia que me foi dada, me foi passada pelo meu pai, pelos diários de internação numa clínica de auxílio psiquiátrico que eu encontrei anos depois da morte dele”, explicou.

E disse que de certa maneira com este livro e com este prémio se fechou um círculo.“O círculo de quem de alguma maneira está longe há 18 anos; o círculo de quem educa uma filha em duas ou três línguas; o círculo de quem reencontra o pai num arquivo e refaz a memória dele inventando uma personagem que também busca se encontrar interpretando os seus próprios sonhos mas carecendo de uma linguagem para esse eu. "

"O Sonâmbulo Amador é um pouco isso, é alguém que se observa de longe e tenta se reinventar enfrentando esses fantasmas. Eu sou de certo modo um estranho para a maioria de vocês, não circulo no Brasil mas vivo esse aspecto palpável e real do que é a lusofonia. Inclusive num país que não é da língua portuguesa. E se me é permitido dedicar mais esse prémio – já que o outro foi para a minha filha  - eu o dedicaria a todos os emigrantes que fora dos seus países falam a sua própria língua e mantêm a língua viva. E também aos alunos que [nos outros países ] querem aprender línguas estrangeiras”, acrescentou.

A curadoria desta edição do Prémio Portugal Telecom foi composta por Selma Caetano (curadora-coordenadora e consultora literária da Portugal Telecom), pelo poeta António Carlos Secchin (curador da categoria Poesia), pelo escritor Luiz Ruffato (curador da categoria Romance) e pelo escritor Marcelino Freire (curador da categoria Conto/Crónica).

Este ano o prémio teve um total de 450 livros inscritos, todos publicados no Brasil em 2012.

Na cerimónia foi também apresentado o Livro das Palavras (Leya), uma colectânea de entrevistas com os 27 escritores que já venceram este prémio, entre 2003 e 2012, da autoria de Selma Caetano e José Castello.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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