Jacques Lowe, o fotógrafo que ganhou e perdeu tudo com JFK

Foi um dos fotógrafos que acompanharam mais de perto a vida pública e privada de JFK. Os negativos dos quase cinco anos em que foi uma sombra do Presidente dos EUA perderam-se nos atentados de 11 de Setembro de 2001. Mas o que restou deu para fazer um livro

O fotógrafo norte-americano Jacques Lowe morreu quatro meses antes de a maior parte do seu arquivo ter sido destruído, no dia 11 de Setembro de 2001. Os atentados contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque, ceifaram milhares de vidas e levaram trabalhos de uma vida, como os 40 mil negativos que Lowe decidiu guardar numa caixa forte de um banco numa das torres que ficaram reduzidas a escombros.

Esses fotogramas não eram apenas a maior parte do arquivo de Lowe – eram a sua maior preciosidade fotográfica, porque neles estavam inscritos os anos que passou com John F. Kennedy, entre 1958 e 1963, primeiro enquanto candidato a Presidente e depois enquanto Presidente dos EUA.

Quando os dois aviões se precipitaram contra as torres do centro financeiro nova-iorquino, Thomasina Lowe, uma das filhas de Jacques, estava a poucos quarteirões do local dos ataques, precisamente no estúdio do pai. Quando começou a ouvir os noticiários, percebeu imediatamente que se lembraria para sempre daquele momento como um dos mais terríveis da sua vida. Percebeu que, à imagem dos americanos de gerações anteriores, que se lembravam exactamente onde estavam quando ouviram a notícia do assassinato de JFK, também ela saberia identificar com precisão o momento em que se sentiu estupefacta pelos atentados e angustiada pelo destino do trabalho do pai.

Thomasina deu início a uma campanha para tentar saber o paradeiro dos negativos no meio dos destroços e, em Fevereiro de 2002, recebeu um telefonema do banco a dizer: “Encontrámos o seu cofre.” A caixa estava intacta, mas os negativos tinham desaparecido todos. Não é claro se se tratou de um roubo ou se o espólio foi destruído. Por sorte, quer algumas cópias vintage quer as folhas de contacto de todo este trabalho estavam noutro lugar. E, a partir destes suportes, foi possível reunir mais de 250 fotografias, muitas das quais inéditas, para o livro Kennedy – El Álbum de Una Época, que a editora espanhola La Fábrica lançou este mês, quando se cumprem 50 anos da morte de JFK.

Jacques Lowe, que fugiu para os EUA do terror nazi, começou a carreira como fotojornalista no início dos anos 1950 em revistas como a Time, Life, Paris Match, Época e Stern. Em 1958, conheceu John e este pediu-lhe que fosse o seu fotógrafo pessoal. Apesar de ter declinado o convite para ser o fotógrafo oficial da Casa Branca, Lowe transformou-se na sombra do Presidente dos EUA, ajudando a criar um dos ícones do século XX. Quando Jacques Lowe recusou o convite, JFK não desistiu do seu olhar: “Fique por perto e registe a minha Administração. Não se preocupe, farei com que valha a pena.” E valeu.

Sugerir correcção
Comentar