Já haverá suspeitos no ataque com ácido do Ballet Bolshoi, agora consumido por discussões internas

Na sequência do ataque com ácido ao director artístico do Ballet Bolshoi, o seu bailarino principal e a direcção envolveram-se numa discussão nos média em que pedem a saída um do outro da instituição.

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Sergei Filin após o ataque, em Moscovo Vselovod Kutznestov/Reuters
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Sergei Filin a actuar em 2007 YURI KADOBNOV/AFP
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Nikolai Tsiskaridze (aqui numa fotografia de 2004) questiona o ataque e pede a saída da direcção do Bolshoi Alexander Nemenov/Reuters

Sergei Filin, o director do Ballet Bolshoi, foi atacado com ácido a 17 de Janeiro em Moscovo, Rússia, dando início a um capítulo particularmente violento de conflitos que já agitariam internamente a mais famosa companhia de bailado russa – seguiram-se suspeitas, avisos e interrogatórios, com Filin a garantir que sabia quem o tinha deixado com ferimentos no rosto. Agora, é a vez de a administração da companhia ameaçar processar o bailarino Nikolai Tsiskaridze pelas críticas que este fez à forma como aqueles responsáveis geriram o período após o ataque a Sergei Fillin. A polícia está já a identificar suspeitos.

De acordo com a agência de notícias russa Interfax, a polícia está a tratar vários funcionários do teatro, bailarinos e trabalhadores de outras áreas, como suspeitos do ataque a Filin, segundo disse à agência uma fonte das autoridades policiais moscovitas. "As provas estão agora a ser recolhidas", disse a mesma fonte, sem adiantar mais.

Já o New York Times escreve que o longo conflito, de anos, entre o bailarino principal Nikolai Tsiskaridze e o director-geral do teatro, Anatoly Iksanov, e as sucessivas entrevistas inflamadas que os envolvidos neste caso têm dado à imprensa russa poderá resultar num processo legal da direcção do teatro Bolshoi contra o bailarino. Tanto Tsiskaridze (na BBC Rússia) quanto Iksanov trocaram acusações em público e recomendaram a saída um do outro dos respectivos cargos. Tsiskaridze, que anteriormente tinha lamentado como “um crime terrível que deve ser violentamente condenado”, questionou nesta entrevista ao serviço russo da BBC o próprio ataque a Filin e queixou-se de "perseguição" por parte da direcção do Bolshoi, lamentando ter sido implicado por ela no caso. 

Depois disso, a porta-voz do Bolshoi disse à agência noticiosa RIA Novostia que está em estudo a possibilidade de processar o bailarino, sem adiantar que tipo de queixa poderiam apresentar contra Tsiskaridze. O nome de Tsiskaridze tem surgido associado a este caso logo desde o ataque, de motivações ainda desconhecidas mas cuja vítima acredita estarem relacionadas com a vontade de o afastar e de manchar a reputação da companhia. Tsiskaridze foi um dos vários funcionários da companhia interrogados pelas autoridades quanto ao ataque e o New York Times escreve que recusou um teste de polígrafo.

Sendo o principal bailarino do Bolshoi, a tradição do sector faria prever que Tsiskaridze se perfilasse para o cargo que acabou por pertencer a Sergei Filin, estando perto do final da sua carreira, tem 39 anos, mas tendo sido repetidamente ignorado nas escolhas internas para cargos administrativos que deveriam ser a sua próxima etapa profissional. Ao New York Times, Iksanov admitiu que gostaria que Tsiskaridze abandonasse o Bolshoi por sua vontade "porque retiraria tensão ao colectivo porque ele se comporta mal em relação à situação em geral no teatro", mas frisou que a legislação russa dá ao bailarino uma pensão vitalícia e que "ele pode ficar no teatro até ter cem anos". 

O jornal falou também com o bailarino principal, uma verdadeira estrela no seu país, que ao telefone reiterou que "quando um responsável luta contra um artista e o artista não é culpado, o responsável tem de sair", queixando-se à BBC de viver como "no estalinismo". E repetiu que não há provas da existência das queimaduras em relação às quais Filin estará a ser tratado na Alemanha, por estar em risco a sua visão, questionando como é que o director artístico surgiu em público sem mazelas na face. Na véspera do ataque a Filin, o seu carro foi vandalizado e o director artístico do Bolshoi diz ter já um historial de ameaças telefónicas. 

Serguei Filin é o director artístico do Bolshoi desde Março de 2011 e o seu mandato é de cinco anos. O ataque ao responsável motivou o adiamento da estreia da coreografia de Wayne McGregor da Sagração da Primavera, de Stravinsky, para Março.  

 

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