Especialistas começaram esta segunda-feira a estudar alegados achados arqueológicos na Terceira

Comissão multidisciplinar vai estar a trabalhar na ilha até sábado, deslocando-se mais tarde ao Corvo. Cabe-lhe analisar as alegadas descobertas de vestígios de um povoamento do arquipélago anterior ao português.

Um dos santuários que os arqueólogos da APIA alegam ter identificado na Ilha Terceira
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Um dos santuários que os arqueólogos da APIA alegam ter identificado na Ilha Terceira Cortesia APIA
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Ilha Terceira Cortesia APIA
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Alegados hipogeus na ilha do Corvo Cortesia APIA

Uma equipa de 13 especialistas das áreas de Arqueologia, História e Geologia iniciou esta segunda-feira uma investigação a alegados achados arqueológicos na ilha Terceira, nos Açores, anunciou o director regional da Cultura, Nuno Ribeiro Lopes.

“O que gostaríamos é que saísse daqui uma recomendação sobre aquilo que devemos fazer. Não vamos provar se é verdade ou não é, se é datado desta ou daquela época”, salientou numa conferência de imprensa em Angra do Heroísmo. Se as condições meteorológicas o permitirem, a comissão de especialistas terminará o seu trabalho no sábado, dia 19, de manhã, emitindo depois um relatório com orientações para a Direcção Regional da Cultura.

Nuno Ribeiro Lopes destacou que a comissão é “completamente independente” e realçou que nem a Direcção Regional da Cultura nem os especialistas que descobriram locais que consideram ter valor arqueológico estão representados. 

A criação desta comissão surge na sequência de um projecto de resolução do PPM, que recomenda ao governo regional que promova um estudo que permita a datação de achados nas ilhas da Terceira e do Corvo, por haver cientistas que defendem que são anteriores ao povoamento português do arquipélago.

A iniciativa do PPM foi discutida pela Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa da Região, onde foram ouvidos os arqueólogos Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito, que lamentaram não terem sido integrados na comissão que vai agora estudar os achados, reclamando terem descoberto um dos locais em causa. 

Por sua vez, o director regional da Cultura justificou a não-integração nesta comissão de quem identificou os locais com a necessidade de manter a sua independência. “O que queríamos era que as pessoas estivessem livres de preconceito e pudessem abordar o assunto com toda a clareza”, frisou, acrescentando que cabe à comissão decidir se quer ou não ouvir os cientistas que identificaram os locais. 

A equipa é constituída por Cláudio Torres, responsável pelo Campo Arqueológico de Mértola, Isabel Albergaria, Avelino Meneses, José Damião, João Luís Gaspar, Gabriela Queirós, Ana Isabel Gomes e Angus Duncan, da Universidade dos Açores, Raquel Vilaça, da Universidade de Coimbra, Ana Margarida Arruda e Ana Catarina Sousa, da Universidade de Lisboa, Rui Parreira, da Direcção Regional de Cultura do Algarve, e Francisco Maduro Dias, do Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Questionado pelos jornalistas, o historiador Avelino Meneses considerou ser “prematuro” adiantar com quem e quando vai a comissão falar, tendo em conta que os trabalhos se iniciaram esta segunda-feira. “Vamos definir de que instrumentos de trabalho carecemos e vamos ponderar quem deveremos ouvir”, frisou.

A Direcção Regional da Cultura cedeu a cada elemento da comissão notícias que foram publicadas sobre os alegados achados e relatórios que a tutela encomendou, como o da arqueóloga Ana Margarida Arruda, que integra também a comissão.

Segundo Nuno Ribeiro Lopes, a Direcção Regional da Cultura convidou a arqueóloga a integrar a comissão por considerar que ela tinha “o direito de confirmar ou alterar a sua própria informação”, já que poderá agora cruzar os seus dados com os de especialistas noutras áreas, além de ser “a pessoa mais fundamentada em Portugal e reconhecida internacionalmente sobre a questão fenício-púnica [em causa no que toca aos alegados achados na Terceira]”.

A comissão vai investigar três locais na ilha Terceira – Monte Brasil, Espigão e Quatro Ribeiras – até sábado, escolhendo uma data para posteriormente alguns elementos visitarem também a ilha do Corvo.

Recentemente, a mesma equipa de arqueólogos que reclama as alegadas descobertas no Corvo e na Terceira, liderada por Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito, disse ter identificado na ilha do Pico construções em pedra – até aqui referidas como "maroiços" e sem que se lhes conhecesse outro propósito senão o de acumular rocha vulcânica retirada dos terrenos próximos para aumentar a área de cultivo da vinha – anteriores ao século XV.

Segundo esta dupla de arqueólogos da APIA (Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica), é provável que estas estruturas a que se refere como "pirâmides" tenham sido construídas com propósitos funerários, talvez por aborígenes oriundos das Canárias, embora admita serem necessários estudos mais aprofundados para confirmar, ou não, estas hipóteses. 

Para já, a ilha do Pico parece não estar na rota desta comissão de especialistas que se vai deslocar à Terceira e ao Corvo. Mas a arqueóloga Ana Margarida Arruda, que dela faz parte, já visitou a ilha a convite da UNESCO – a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura chamou-a a intervir pelo facto de a paisagem da vinha do Pico ser património mundial – para analisar os alegados achados da equipa de Nuno Ribeiro e rejeita por completo a teoria avançada, que aponta para uma ocupação humana anterior ao século XV.

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