A luz interior dos You Can't Win, Charlie Brown

Foi com muita luz, interior e exterior, que o grupo português apresentou o novo álbum, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

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Nuno Ferreira Santos
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You Can’t Win, Charlie Brown. Lisboa. Centro Cultural de Belém. Sábado, 18. 21h00. 4*

Foi um espectáculo de luz. Vinda dos projectores, inundando o palco, simples, precisa, encantatória. E principalmente dos seis músicos em palco, naquele que foi o seu maior concerto até à data, coincidindo com a apresentação do segundo álbum, Diffraction/Refraction, que estará nas lojas esta segunda-feira.

Talvez por isso começaram algo ansiosos, com uma das melhores canções do novo registo – After December, harmonias vocais, um piano que dá o tom e a seguir uma correria radiante entre a folk e o rock que parece procurar a transcendência. Mas essa impressão de que poderiam degustar melhor as canções, sem pressas, deixando-as estabelecer-se, rapidamente se extinguiu.

São seis e novos, mas em nenhum momento se sente dispersão ou falta de maturidade. Pelo contrário. Apesar de algumas canções parecerem ganhar um sentido comunitário de gestos épicos, nenhum instrumento ou som está deslocado ou a mais. Não há opulência, mas justeza. E todos os actores são bons executantes.

Afonso Cabral, o autor da maior parte das letras, é o homem que canta mais. Mas todos eles o fazem. Na disposição do imenso palco estão juntos. Sente-se uma ligação intensa entre todos. O desenho de luzes de palco, da autoria de João Paulo Feliciano, o homem do leme da editora Pataca Discos, dá-lhes espaço, projectando lisura e funcionalidade nas cores e formas.

Eles, por sua vez, habitam essa luminosidade, com uma música que parece provir de uma folia psicadélica, desmascarando cores atrás de cores, ou de uma congregação religiosa isolada da realidade mais mundana. Qualquer coisa que promove um regresso às coisas concretas da vida como a camaradagem.

Quando comunicam com o público projectam esse prazer humilde de estar em grupo, partilhando-o com o público que encheu a plateia do CCB, que retribuiu quase sempre de forma calorosa. Na sua música existe a memória da folk campestre inglesa, da solarenga Califórnia dos Beach Boys e de uma Lisboa melancólica mas atravessada por uma luminosidade idealista, guiada por guitarras acústicas, arranjos nobres e blocos harmónicos.

Foi naturalmente um concerto dominado pelas canções do novo álbum como a naturalidade acústica de I wanna be your fog e Heart, o minimalismo formal de Be my world ou a percussiva Natural habit, embora também tenha havido espaço para o passado recente como Chromatic, I’ve been lost ou Sort of.

Na teoria parecia uma aposta arriscada: fazer o concerto de apresentação do novo álbum, ainda antes deste ser lançado, sem a necessária rodagem e com o desconhecimento quase geral do público das novas canções, na maior sala onde já haviam actuado em nome próprio. Mas a verdade é que foi um óptimo concerto.

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