Foi descoberta a famosa nau de Cristóvão Colombo no Haiti?

Esta poderá ser uma das mais importantes descobertas arqueológicas subaquáticas do mundo.

Fotografia tirada em 2003, na imagem vê-se o canhão
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Fotografia tirada em 2003, na imagem vê-se o canhão Brandon Clifford
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Restos da nau no fundo do mar Brandon Clifford

Mais de cinco séculos depois da nau de Cristóvão Colombo, a Santa Maria, ter naufragado nas Caraíbas, arqueólogos pensam ter descoberto os seus restos há muito tempo perdidos – encontrando-se no fundo do mar da costa norte do Haiti.

“Toda as provas geográficas, topográficas e arqueológicas subaquáticas sugerem fortemente que esta nau naufragada é a famosa nau de Colombo, a Santa Maria”, disse o líder de uma recente expedição de reconhecimento ao local, um dos investigadores americanos de topo na arqueologia subaquática, Barry Clifford.

“O governo haitiano tem sito extremamente prestável – e temos agora de continuar a trabalhar com eles para levar a cabo uma escavação arqueológica detalhada aos destroços da nau”, acrescentou ainda.

Até agora, a equipa de Barry Clifford tem desenvolvido o seu trabalho no local de forma puramente não invasiva – medindo e fotografando.

Identificar provisoriamente esta embarcação naufragada como a Santa Maria foi possível graças a descobertas feitas numa área relativamente próxima dali, por outros arqueólogos em 2003, sugerindo a provável localização do forte de Cristóvão Colombo, o navegador genovês que liderou a frota que alcançou o continente americano em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha. Munido com esta nova informação sobre a localização do forte, Clifford foi capaz de usar os dados no diário de Cristóvão Colombo para descobrir onde é que os destroços da nau deveriam estar.

Uma expedição, organizada pela sua equipa há uma década, tinha já descoberto e fotografado a nau – mas não tinha, até àquela altura, percebido a sua provável identificação.

Foi um actual reexame das fotografias subaquáticas da investigação inicial (desenvolvida em 2003), combinada com informação dos recentes mergulhos de reconhecimento no local (realizados pela equipa de Clifford no início deste mês), que permitiram a Clifford identificar provisoriamente a nau como a Santa Maria.

As provas até agora são substanciais. É a localização exacta se atendermos aos termos como Cristóvão Colombo, escrevendo no seu diário, descreveu a posição da nau em relação ao forte.

O sítio corresponde ainda em termos de conhecimento histórico à topografia subaquática associada ao naufrágio da Santa Maria. As correntes locais também são consistentes com aquilo que é conhecido historicamente sobre a forma como a nau se afastou repentinamente antes do seu fim.

A pegada do naufrágio, representada pela pilha de lastro da nau, também é exactamente o que se esperaria de uma nau do tamanho da Santa Maria.

Usando magnetómetros marítimos, equipamento sonar de varrimento lateral e mergulhadores, a equipa de Barry Clifford conseguiu, ao longo de vários anos, investigar mais de 400 anomalias no fundo do mar ao largo da costa norte do Haiti e reduziu a procura da Santa Maria à pequena área onde a nau foi encontrada.

O reexame das pistas fotográficas tiradas durante a investigação inicial ao local em 2003 por Clifford e o seu filho Brandon forneceram evidências de como a embarcação é consistente com a época de Cristóvão Colombo – incluindo um canhão antigo do tipo que iria a bordo da Santa Maria.

Quando Clifford e a sua equipa regressaram ao local no início deste mês, a sua intenção era identificar definitivamente o canhão e outros artefactos descobertos e que tinham sido fotografados em 2003. Mas tragicamente todos os objectos chave de diagnóstico visível, incluindo o canhão, foram saqueados por piratas.

“Informámos o governo haitiano da nossa descoberta – e estamos ansiosos por trabalhar com eles e com outros colegas do Haiti de forma a garantir que o sítio fica totalmente protegido e preservado. Será uma bela oportunidade para trabalhar com as autoridades haitianas para preservar as pistas e os artefactos de uma nau que mudou o mundo”, disse Clifford.

“Estou confiante de que uma escavação completa da nau vai produzir a primeira prova arqueológica marinha detalhada da descoberta da América por Colombo.”

“Idealmente, se as escavações correrem bem e dependendo do estado de preservação da madeira enterrada, pode vir a ser possível levantar quaisquer restos sobreviventes da embarcação, conservá-los totalmente e, em seguida, colocá-los numa exposição pública permanente num museu do Haiti.”

“Acredito que, tratado desta maneria, a nau tem o potencial de desempenhar no futuro um papel importante na ajuda do desenvolvimento da indústria do turismo do Haiti”, acrescentou ainda Clifford.

Barry Clifford, que falou no ano passado sobre a nau naufragado com o presidente do Haiti, Michel Martelly, é um dos exploradores mais experientes do mundo em escavações arqueológicas subaquáticas. Clifford tem desenvolvido trabalho de pesquisa sobre dezenas de naufrágios históricos em diferentes partes do mundo ao longo das últimas quatro décadas – e foi ele quem descobriu e escavou a primeira nau pirata do mundo totalmente comprovada, o Whydah, em 1984. Mais recentemente descobriu o navio do Capitão Kidd ao largo de Madagáscar.

A Santa Maria foi construída na segunda metade do século XV no País Basco, no norte de Espanha. Em 1942, Cristóvão Colombo fretou a nau e juntamente com outros dois navios navegou desde a costa atlântica do sul de Espanha, via Ilhas Canárias, à descoberta da nova rota marítima para a Ásia.

Depois de 37 dias, Cristóvão Colombo chegou às Bahamas – mas, ao fim de 10 semanas, a sua nau, a Santa Maria, com Colombo a bordo, derivou durante a noite num recife na costa norte do Haiti e teve de ser abandonada. Depois disso, numa vila nativa perto dali, Cristóvão Colombo começou a construir o seu forte – e uma semana mais tarde, deixando muitos dos seus homens para trás, usou as duas naus restantes para navegar de volta a Espanha de forma a reportar a descoberta daquilo que ele entendia ser a nova rota oeste para a Índia aos seus patrões reais – o Rei Fernando e a Rainha Isabel de Espanha.

O reconhecido arqueólogo marítimo americano, o professor Charles Beeker da Universiadade de Indiana, que acompanhou a recente expedição de reconhecimento de Clifford ao Haiti e que também realizou uma avaliação visual subaquática ao sítio, diz que este “merece uma investigação científica detalhada para se obterem artefactos de diagnóstico”.

“Há algumas pistas entusiasmantes retiradas das fotografias do local em 2003 e dos mergulhos de reconhecimento, esta pode ser mesmo a nau naufragada Santa Maria.”

“Mas uma escavação será necessária para se poder descobrir mais provas e confirmar a informação”, disse o professor Beeker, que é director do departamento de ciência subaquática da Universidade do Indiana.

 A investigação à nau está a ser apoiada pelo canal de televisão por cabo History, que assegurou já os direitos exclusivos para produzir um programa sobre o assunto.

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