“Beethoven japonês” nem compõe nem será surdo

Takashi Nihaki, o professor de música que assumiu ser o compositor-fantasma das obras de Mamoru Samuragochi, garante que este não é surdo

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Takashi Niigaki durante a conferência de imprensa em que divulgou que compôs as obras de Mamoru Samuragochi AFP PHOTO / Yoshikazu TSUNO
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O compositor Mamoru Samuragochi AFP PHOTO / JIJI PRESS

Mamoru Samuragochi, um dos mais apreciados compositores japoneses actuais, conhecido como “Beethoven japonês” por ter continuado a compor apesar de ser totalmente surdo há década e meia, não só não compôs as obras que o celebrizaram como, ao que parece, não será tão surdo como pretende.

Samuragochi chocou esta terça-feira os seus muitos fãs ao confessar que se serve desde 1996 dos serviços de um músico contratado, verdadeiro autor das composições que o tornaram um ídolo nacional, da música escrita para o jogo de vídeo Resident Evil até Simphony No.1 Hiroshima, uma homenagem às vítimas da bomba atómica.

Em Março de 2012, um documentário da televisão pública japonesa, NHK, acompanhou a jornada solidária de Samuragochi na região de Tohoku, que fora devastada um ano antes por um violento tsunami. Ao som da sinfonia para Hiroshima, cidade natal do compositor, o filme mostrava Samuragochi a confortar os sobreviventes da tragédia e respectivas famílias.

Mas esta obra, considerada a sua obra-prima, e que ficou conhecida, após a exibição  do referido documentário, como “a sinfonia da esperança”, foi afinal composta por Takashi Nigaki, professor na conceituada escola privada de música Toho Gakuen, em Tóquio.

Na sua confissão, Samuragochi mantivera em segredo a identidade do compositor-fantasma, adiantando apenas que era do sexo masculino. Mas no dia seguinte, quarta-feira, Nigaki convocou uma conferência de imprensa, na qual explicou que Samuragochi lhe pagou, ao longo dos últimos 18 anos, cerca de 7 milhões de ienes (pouco mais de 50 mil euros). E garante – essa foi a sua revelação mais surpreendente – que o seu empregador nunca foi surdo, já que ouviria repetidamente, e comentaria, todas as composições que lhe encomendou.

Justificando a sua cumplicidade nesta fraude, Nigaki disse que aceitara impensadamente o acordo, mas que a situação o começou a preocupar cada vez mais e que já antes tentara sair dela, mas que Samuragochi lhe teria dito que se suicidaria caso o músico deixasse de compor para ele.

A polémica atingiu já um dos mais conhecidos atletas japoneses, o patinador artístico Daisuke Takahashi, que irá actuar ao som de uma composição que julgava ser de Samuragochi nos Jogos Olímpicos de Inverno que decorrem este mês em Sochi, na Rússia. Takahashi já disse que não irá substituir a música, e Nikati, provável autor da mesma, reconheceu ter chegado a ponderar o adiamento das suas revelações por temer o impacto que estas pudessem ter na preparação do desportista.

Samuragochi não comentou as afirmações de Nigaki, e também os advogados que o representam, contactados pela cadeia de televisão americana CNN, disseram não estar em condições de poder responder às alegações do músico. Um deles, Kazushi Orimoto, disse todavia a um repórter da NHK, num depoimento difundido em directo, que o seu escritório estava convencido de que Samuragochi é mesmo surdo, e que existiria um certificado oficial a atestá-lo.

 

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