Palcos da semana: do eco Imaterial de Évora às Fantasmagorias teatrais do FITEI

Os próximos dias também trazem música de Mart’nália e Paulinho Moska, uma grande exposição em torno de Siza e liberdade para folhear Livros a Oeste.

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A tunisina Emel Mathlouthi vem cantar ao Imaterial, em Évora Amber Gray
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Um dos cadernos expostos em Siza (Canadian Centre for Architecture) Ana Amado
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A Possibilidade da Ternura, um dos espectáculos integrados no 47.º FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica Maglio Pérez
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Paulinho Moska e Mart'nália andam juntos em digressão Divulgação
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Noiserv, músico-escritor, monta uma instalação no festival lourinhanense Livros a Oeste Vera Marmelo
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A diferença Imaterial

De raízes fincadas na tradição do cante, mas de horizonte estendido aos patrimónios destas e de outras paisagens, o festival Imaterial torna a fazer-se ouvir em Évora, com ecos de várias paragens.

A acção musical concentra-se no Teatro Garcia de Resende, à razão de dois concertos por noite – nove noites, mais precisamente. As “nacionais” Mísia e Emmy Curl partilham o cartaz com a tunisina – e voz da Primavera Árabe – Emel Mathlouthi, a basca Maite Larburu, o trio argentino Tablao de Tango, a sul-coreana Dasom Baek, a paquistanesa Meher Angez e os indianos Parveen & Ilyas Khan, entre muitos outros.

A música não é a única atracção. Também há cinema – um ciclo de “documentários etnográficos excepcionais” que vão “do Quirguistão a Cuba”, garante a organização –, um passeio ao montado com direito a música e almoço e uma performance de Abraham Cupeiro no Cromeleque dos Almendres. E ainda, nesta quarta edição, encontros de escolas e famílias com músicos, “para que, desde cedo, se aprenda a escutar quem tem uma voz diferente da nossa”.

Desenhada para Siza

Com quatro letras apenas se identifica um dos maiores arquitectos portugueses – e a exposição que a Gulbenkian está prestes a inaugurar em sua honra. É a primeira “pensada de raiz” sobre Álvaro Siza Vieira na capital, nos últimos 30 anos, assegura a fundação. O ponto de partida é “o desenho como forma de pensar”, sublinha o curador (e arquitecto) Carlos Quintáns Eiras.

Siza ocupa duas galerias: na principal, o foco está mais no trajecto profissional, através de materiais como esquissos, plantas, livros, cadernos ou as 900 fotografias de projectos seus, tiradas por Juan Rodriguez; na galeria de exposições temporárias, revela-se “o universo mais pessoal, mais íntimo de Siza”, em retratos, notas pessoais, desenhos dispersos (em toalhas de mesa ou maços de tabaco) e outras peças e objectos.

O conjunto provém do Canadian Centre for Architecture, da Fundação de Serralves, da Biblioteca de Arte da Gulbenkian, do centro britânico Drawing Matters e do ateliê do arquitecto. Em torno da exposição desenham-se visitas orientadas, oficinas e um ciclo de filmes escolhidos pelo próprio.

A ternura do indizível

No ano passado, foi por Trauma e Bravura que o FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica se moveu. Este ano, pega no binómio e expande-o para acomodar Fantasmagorias, uma “componente espiritual, da ordem do indizível”, [que] rememora passado, presente e um futuro imaginado,” explica o director artístico, Gonçalo Amorim.

É nesta trindade que assenta a 47.ª edição e seus 19 espectáculos. Serão avistados em 14 palcos, número que também vale para a quantidade de estreias. Seis deles são co-produções, como é o caso de Luta Armada, a peça do Hotel Europa que faz subir o pano com investigações à violência pós-revolucionária.

Depois, Ana Luz Ormazábal há-de recuperar a história abafada de uma prisioneira política chilena e a Mala Voadora há-de pôr o galo de Barcelos a pedir satisfações a um Salazar deepfake, enquanto O Bando e a Companhia Olga Roriz procuram “as verdades que se escondem nas ficções e as ilusões que enevoam a realidade” em Irmã Palestina - 1001 Noites.

Janaína Leite vem afrontar preceitos marianos a partir do obsceno. A Companhia Brasileira de Teatro ficará Sem Palavras para dar conta dos “velozes acontecimentos contemporâneos, com histórias de amor, de violência, de consumo, de corpos em transição”. No meio de violências, vertigens e outros momentos a não perder, abre-se ainda A Possibilidade da Ternura, criada com adolescentes pela companhia La Re-Sentida.

Mart'nália com Moska

Mart'nália, traz na voz o samba que lhe corre nas veias (o pai é Martinho da Vila), de estatuto conquistado por direito próprio e a extravasar para caminhos pop. Paulinho Moska, ex-Garganta Profunda e ex-Inimigos do Rei, lançou-se a solo nos anos 1990 e tem pontos de contacto com Lenine, Zeca Baleiro ou Chico César.

Ambos cariocas, ambos nomes fortes da MPB. Vem de longe a cumplicidade e amizade entre eles. Concretizou-se em momentos como Namora comigo, que ele escreveu para ela. É uma das canções a escutar em Vozes, Violões, Percussão, a digressão em que partilham temas próprios e alheios, e que os traz a Portugal para cinco datas.​

A Oeste, a liberdade

“Três luzes acenderam ao mesmo tempo, em três janelas diferentes”. A frase, tirada de Três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo, o primeiro livro de David “Noiserv” Santos, transforma-se numa instalação com letras, luz e música dentro. Criada “para mostrar que a palavra é um lugar em expansão”, nas palavras da autarquia lourinhanense, é um exemplo da liberdade que marca a 12.ª edição do Livros a Oeste - Festival do Leitor.

Outro músico convocado é Sam the Kid, para soltar a língua portuguesa com Marco Neves, no podcast Assim ou Assado. Sérgio Godinho também entra nesta edição do festival literário, ao lado de outros autores como Afonso Cruz, Cláudia Lucas Chéu, José Pacheco Pereira, Nuno Artur Silva, Raquel Varela, Rui Zink ou Vítor Belanciano. Às conversas somam-se oficinas, apresentações, leituras, exposições, cinema, teatro, concursos e a habitual feira do livro, bem como vénias a Camões, a Cesário Verde e aos 50 anos do 25 de Abril.

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