PCP quer entrada gratuita em Serralves todos os domingos e feriados
Comunistas lançaram abaixo-assinado à porta da Fundação e recolheram mais de mil assinaturas de pessoas que aguardavam numa longa fila, este domingo, para beneficiar da única manhã gratuita mensal.
Os visitantes que na manhã de domingo passado aguardavam numa extensa fila para entrar na Fundação de Serralves, no Porto, aproveitando o facto de as entradas serem gratuitas no primeiro domingo de cada mês, entre as 10h00 e as 13h00, depararam-se com um grupo de militantes do PCP, que aproveitou a ocasião para lançar um abaixo-assinado exigindo que a gratuitidade seja alargada a todos os domingos, até às 19h00, e ainda aos feriados. Em poucas horas, e num dia em que o ritmo de entrada estava a ser especialmente moroso por causa da exposição da japonesa Yayoy Kusama, que tinha lotação limitada, os comunistas conseguiram recolher mais de mil assinaturas.
O documento pode também ser assinado online no site Petição Pública, onde esta quinta-feira ao final do dia já somava mais 328 signatários, e defende não apenas os quatro domingos gratuitos, mas uma “gestão pública da fundação, integrada numa lógica de serviço público de cultura, que respeite e valorize trabalhadores”.
Sublinhando que no último Relatório e Contas de Serralves que conseguiu consultar, o financiamento público da fundação já representava “cerca de 40%” do orçamento, Rui Lopes, do PCP, que participou na iniciativa de domingo passado, lembra que o Estado aumentou entretanto a sua dotação para 6,4 milhões de euros em 2024, um aumento de 2,3 milhões de euros que terá elevado significativamente a percentagem de dinheiros públicos nas contas da instituição.
“Isto torna ainda mais afrontosa esta coisa caricata das 3 horas mensais de entrada gratuita”, argumenta Rui Lopes. “No domingo passado, tivemos permanentemente na entrada de Serralves uma fila de pessoas que dobrava três esquinas e se estendia por quatro ruas”, conta. “Para quem diz que as pessoas não se interessam pela cultura, a procura do público é notável, mas é um triste espectáculo ver esta fila de gente à espera de poder entrar num espaço que acaba por ser financiado fundamentalmente por dinheiros públicos."
Desde que Serralves deixou cair os domingos gratuitos em 2016, passando a só não cobrar entradas na manhã do primeiro domingo de cada mês, que tem havido tentativas de levar a fundação a reverter esta situação, agravada pela subida dos preços dos ingressos: um bilhete geral, com acesso ao Parque e ao Museu, custa hoje 24 euros, exactamente o triplo do que cobra, por exemplo, o Museu Nacional Soares dos Reis, e mais do dobro do que paga o visitante do Museu Gulbenkian, um e outro visitáveis gratuitamente todos os domingos.
Já em Dezembro de 2022, o Bloco de Esquerda tentou que a Câmara do Porto defendesse no Conselho de Fundadores do Museu de Serralves a reposição do acesso gratuito ao museu nas manhãs de domingo e feriados, mas a proposta foi rejeitada em reunião de Executivo, com o presidente da Câmara, Rui Moreira, mas também os vereadores do PSD e do PS, a subscreverem os argumentos da presidente da administração de Serralves, Ana Pinho, que enviou na ocasião uma carta a Moreira - da qual este citou alguns excertos que ficaram lavrados em acta -, lembrando que Serralves é “uma fundação privada, com o estatuto de utilidade pública”, cujo museu “é também ele privado”, afirmando que, à data, “a contribuição do Estado representa[va] cerca de um terço do valor do orçamento”, e chamando ainda a atenção para o facto de o preço do Cartão de Amigo de Serralves, que dá acesso livre ao Parque e ao Museu, nunca ter sido aumentado e continuar nos 50 euros anuais, o que corresponde a pouco mais de 4 euros por mês. O PÚBLICO tentou obter uma reacção de Serralves a esta iniciativa do PCP, mas fê-lo já ao final da tarde e não foi possível obter resposta.
Notando que, “desde o final de 2023, os museus e monumentos sob a alçada do Estado são gratuitos ao domingo”, Susana Constante Pereira, do Bloco de Esquerda, lamenta que, “mesmo com 6,4 milhões de euros de financiamento público para 2024, Serralves fique de fora desta medida e continue apenas com uma manhã por mês gratuita”. E “assumindo que o fim-de-semana do Serralves em Festa e o do Outono em Serralves não entram para esta contagem, por serem já iniciativas gratuitas”, seriam apenas “10 manhãs por ano de democratização do acesso à cultura”, acrescenta.
“Não compreendemos que se mantenha esta posição e esperamos que a nova ministra da Cultura, com o Presidente da Câmara do Porto, tomem as diligências necessárias para a reposição dos domingos gratuitos em Serralves”, conclui. O programa para a Cultura do novo Governo não faz qualquer referência a Serralves, mas acusa o Executivo socialista de não ter promovido “políticas de acesso amplo e inclusivo aos espaços e actividades culturais do Estado ou por ele financiados”.