Carmen é uma péssima Carmen

Na sua primeira longa, Benjamin Millepied transpõe “Carmen” para a fronteira americano-mexicana da actualidade. Com dramatismo a martelo.

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O filme Carmen estreia-se esta quinta-feira nos cinemas portugueses
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“Carmens” vindas de Merimée e de Bizet já houve muitas, em adaptação estrita ou em inspiração, ao longo de décadas e desde os primórdios (A Burlesque on Carmen é, por exemplo, um dos mais belos e menos conhecidos filmes de Chaplin no período da Essanay). Das muitas que já houve, poucas serão tão más como a desta primeira longa-metragem de Benjamin Millepied, até aqui conhecido como coreógrafo, mas ainda mais conhecido por ser, até há muito pouco tempo, o marido de Natalie Portman (encontraram-se no Cisne Negro de Aronofsky, onde Millepied trabalhou nas cenas de dança).

Juntando o útil ao agradável, Millepied transpõe a sua Carmen para a fronteira americano-mexicana da actualidade, em reflexão sobre a imigração e o caos da fronteira, e o caos e a crueldade das relações entre Primeiro e Terceiro Mundo. Os ecos da ópera de Bizet são servidos em fatias, momentos de uma espécie de coro de tragédia clássica, pequenos números de dança e música que fariam corar de vergonha Berkeley, Minnelli, Donen, de tão primitivo que tudo isto é.

Primitivo e soturno, de um dramatismo a martelo que é ainda pior quando é estritamente narrativo, e torna absolutamente desinteressantes o trajecto e o recorte das personagens, em especial o par formado por Melissa Barrera e Paul Mescal (actor, como sabemos, em alta, e provável razão para que a distribuição portuguesa tenha ido recuperar este filme, que já é de 2022 e esteve longe de deixar grande rasto desde então), mas nem eles, nem mesmo Mescal, conseguem arrancar isto a uma tristíssima mediocridade, maneirenta mais do que maneirista, sem imaginação que não seja a de uma solenidade compungida, sempre muito feia.

Não comparar, por favor, com o par da melhor Carmen moderna, Jacques Bonnaffé e Maruschka Detmers no Nome: Carmen de Godard. A diferença é como entre a água (estagnada) e o vinho. Péssimo filme.

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