Cronenberg dilui-se

Um dos mistérios a resolver num futuro é saber como é que vamos olhar para estes últimos Cronenbergs e para as suas tangentes ao incaracterístico.

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Desde que passou a filmar o “invisível”, e invertendo as premissas de boa parte da sua obra (“I have to make the word be flesh”) a fazer da carne palavra em vez de da palavra carne, o melhor filme de Cronenberg é aquele que lida directamente com este cruzamento entre “carne” e “palavras”, e a sublimação de uma pelas outras: Um Método Perigoso, a sua tragicomédia psicanalítica.

 Mapas para as Estrelas é um filme interessante, com aquela frieza dramática, frequentemente transmutada numa impressão de ironia, que traz uma lembrança do melhor Cronenberg. Mas parece que a personalidade se dilui, e vamos avançando a pensar um bocadinho em Todd Haynes (sem dúvida por causa de Julianne Moore, mas não apenas) e depois um bocadinho em David Lynch (sem dúvida por causa do fundo de revisão dos meandros hollywoodianos), sem que o filme nos dê muitos motivos para pensar em... Cronenberg.
Um dos mistérios a resolver num futuro mais ou menos próximo é saber como é que, daqui a uns anos, vamos olhar para estes últimos Cronenbergs e para as suas tangentes ao incaracterístico. Ainda é cedo, mas esse enigma “autoral” é o que dá mais que pensar num filme como este.
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