Está bem abelha

A mais recente produção do departamento de animação da Dreamworks (eles dos "Shreks" e de "Pular a Cerca"), "A História de uma Abelha" é uma rara oportunidade de reencontrar o comediante americano Jerry Seinfeld, ausente do olhar público nos quase dez anos decorridos desde que terminou a sua série televisiva de culto - para lá de produzir, supervisionar e coassinar o argumento, é ele quem dá voz a Barry B. Benson, a abelhavedeta desta comédia animada por computador, que decide levar a raça humana a tribunal pelo que considera a exploração esclavagista das abelhinhas por causa do mel.

Claro que as coisas não são assim tão simples e o que se segue é uma exploração bem-humorada do "efeito borboleta" à medida que a luta pela dignificação do trabalho abelhal se transforma num saco de gatos cada um pior que o outro, enquanto Barry dá por si entusiasmado com uma florista simpática (Renée Zellweger). Mas, apesar da boa intenção da mensagem ecológica do filme, das muitas (e bem metidas) piadas na melhor tradição Seinfeldiana (atenção ao mosquito Mooseblood, em português Pica Nick) e da excelência da animação por computador (o design do interior da colmeia é um achado), "A História de uma Abelha" (tradução banalzinha para o original "Bee Movie") é um objecto um tudo nada desajeitado. O humor-Seinfeld é um bocadinho sofisticado demais para os miúdos (apesar do genérico final creditar os filhos do actor como "kid humor consultants"), com uma secura urbana que impede a abrangência de um "Shrek". E a necessidade de uma narrativa condutora joga contra os exercícios à volta do nada que tornaram a série num êxito, parecendo que falta articulação entre a história simplista e a sucessão de piadas - já era, aliás, essa a falha que perdia "Shrek 2" ou "Pular a Cerca", com a integração dos gagues na narrativa um tanto ou quanto forçada e raramente ao nível duma produção da Pixar.

Com tudo isto, "A História de uma Abelha" fica demasiado maduro para os miúdos e insuficientemente denso para os pais, correndo o risco de não contentar nenhum dos públicos que quer atingir. Dá a sensação de ser uma boa ideia que não foi explorada ao limite. O que não impede que seja um divertimento perfeitamente civilizado para o Natal e uma fita simpática e divertida que entretém sem deslumbrar. Mas era legítimo esperar melhor.

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