Japão cria "bebés robô" para aumentar a taxa de natalidade

Estes autómatos visam incentivar os jovens japoneses a serem pais e, com isso, reduzir o envelhecimento demográfico do país.

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O Kirobo Mini, da Toyota, comporta-se como um bebé: tem movimentos instáveis e um tom de voz agudo Reuters/KIM KYUNG-HOON

Os robôs que simulam o comportamento de bebés e crianças estão a ganhar popularidade no Japão. O objectivo é incentivar os jovens japoneses a serem pais, de maneira a conseguir alterar as tendências demográficas daquele país – mas os "bebés robôs", como lhes chamam, levantam uma miríade de questões éticas e filosóficas.

Já há várias empresas e universidades a explorar o mercado dos robôs que se comportam como bebés, tal como dá conta o site Quartz. Estes robôs pretendem dar a conhecer os desafios da paternidade aos jovens japoneses e, ao mesmo tempo, dar-lhes confiança para serem pais.

Por exemplo, o Kirobo Mini, da Toyota, está equipado com Inteligência Artificial e com uma câmara que lhe permite reconhecer rostos e emoções. Comporta-se de uma maneira vulnerável, para conseguir reacções emocionais por parte dos “pais”.

O Kirobo Mini não se parece com um humano: cabe na palma da mão e não tem um rosto parecido com o de um bebé humano, mas simula, de forma realística, a instabilidade dos movimentos ou o tom de voz agudo de uma criança.

Yotaru é outro “bebé robô”, criado por estudantes universitários japoneses, que usa tecnologia de projecção para simular expressões faciais e emoções. Este simulador reage ao toque, ao humor e até é capaz de replicar uma constipação.

Um estudo publicado na revista científica Lancet indica que, na Austrália, utilizar bebés robotizados nas aulas de saúde incentivou as gravidezes precoces em adolescentes (em vez de as evitar). Não é certo que o mesmo aconteça no Japão, porque há diferenças culturais a ter em conta. No entanto, estes robôs estão a ser desenvolvidos para evitar o crescente envelhecimento da população.

Nos últimos 50 anos, o número de nascimentos diminuiu para cerca de um milhão por ano, segundo dados oficiais do Japão, citados pelo Guardian.

A estes dados juntam-se as caraterísticas da própria sociedade japonesa. Segundo o Quartz, os “solteiros-parasitas” (jovens com mais de trinta anos, desempregados, que ainda vivem com os pais) são tidos como um dos principais problemas para as baixas taxas de natalidade, mas não só. O número de mulheres que escolhem continuar solteiras (uma em cada dez não se casam e os filhos fora do casamento não são comuns no Japão) e a falta de imigração também contribuem para o envelhecimento da população.

Os “robôs bebés” podem ser uma boa forma de contornar esta situação, mas há questões éticas a ter em conta, observa o Quartz. Há estudos que apontam para a possibilidade da criação de uma relação emocional forte entre um humano e um robô (desenvolvida apenas pelo humano – para já, acrescentarão alguns). Mas será que esta relação se pode alterar e tornar-se bilateral, permitida pelos processos de Inteligência Artificial?

Os pais devem escolher as características físicas de um “bebé robô”? Podem devolvê-lo caso tenha algum “defeito”? Ao trocarem de robô (para simular o crescimento da “criança”) podem “transferir” a ligação emocional de uma máquina para a outra? São estas as questões em debate na sociedade japonesa, e que levantam dúvidas sobre a validade ética destes “bebés robôs”.

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