"Não sabemos, nem conhecemos ninguém que saiba, lidar com esta situação"

Em entrevista ao PÚBLICO, o presidente da Câmara de Castanheira de Pera, Fernando Lopes, fala de como as autoridades lidaram com a rapidez do trágico incêndio.

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"Vários factores contribuíram para este horroroso fim" Frederico Batista

Um “cenário verdadeiramente dantesco e um clima de verdadeiro horror". "Neste momento temos de encontrar forças onde não sabemos bem. Nós não sabemos, nem conhecemos ninguém que saiba, lidar com esta situação", desabafa o presidente da Câmara de Castanheira de Pera, Fernando Lopes, sobre o trágico incêndio que começou no sábado em Pedrógão Grande e que matou pelo menos 64 pessoas. "É uma situação verdadeiramente nova. Não me lembro de ver coisa igual”, destaca o autarca, admitindo que não é fácil lidar com "uma situação de tantas perdas em tão pouco tempo". E olhando para as primeiras horas de combate, afirma que "é muito difícil dar a resposta numa situação destas" e "quando não temos comunicações, torna-se muito mais difícil.”

Não conseguirem comunicar foi o principal problema?
É um problema que agrava tantos outros.

Por que não foi possível travar o fogo?
Não é um problema só. É um conjunto de factores que contribuem para este terrível fim. E esse conjunto de factores acabou por originar esta situação. Há técnicos que estudam os fogos florestais há muito tempo, nomeadamente o doutor Xavier Viegas. Ele apelidou este fogo de “fogo explosivo”. A área ardida é a que num fogo normal é consumida em oito/nove dias. Aqui demorou menos de um dia e meio para ser consumida. Quem esteve no teatro de operações, quem presenciou como eu presenciei, percebia-se que mais parecia que estávamos a viver um sonho do que a viver um cenário da vida real.

Não deu para evacuar as aldeias em risco?
Aconteceu tudo muito depressa. Os bombeiros não tinham capacidade de se deslocarem para uma situação nova a que fossem chamados. Depois os incêndios que se propagaram aqui à volta também levaram a que os meios tivessem que ser muito distribuídos e não deu para fazer uma intervenção verdadeiramente musculada em nenhum destes concelhos.

Pediram ajuda e demorou a chegar?
Quanto mais ajuda, mais tempo demora, porque à medida que vamos pedindo, a ajuda vem de sítios mais longínquos e isso é que determinou todo este cenário.

E quanto à organização da Protecção Civil?
Não lhe sei dizer que o SIRESP funcionou sempre, mas as rádios da Protecção Civil, em virtude de as comunicações móveis terem falhado – penso que tem a ver com o facto de terem sido aproveitadas as mesmas torres SIRESP para colocar os emissores/receptores, também essas falharam. Não é a principal razão, mas uma das razões.

Aperceberam-se que o fogo ia para a estrada?
Ninguém se apercebeu desta rapidez. Só no local é que nos apercebemos que de facto as coisas estavam a acontecer depressa de mais.

Como está a situação agora?
A situação está mais controlada em termos de fogos florestais. Não podemos dizer que tenhamos chama, temos um ou outro reacendimento. Andamos numa fase de levantamento. É extremamente necessário renascer das cinzas.

Quantas pessoas ficaram desalojadas?
Não temos noção. Algumas pessoas perderam os seus bens. Umas temos conhecimento que estão em casa de familiares, outras em casas de amigos, outras na Santa Casa. A onda de solidariedade não deixou ninguém na rua. Estamos a contactar aldeia a aldeia, casa a casa para averiguar, essa situação.

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