Não escapamos

Os dias dos medicamentos solenes, indecifráveis e com bom grafismo têm os dias contados.

A Reckitt Benckiser, que fabrica anti-inflamatórios com a marca Nurofen, levou na cabeça de um tribunal australiano por estar a vender os mesmos 324 miligramas de ibuprofeno em embalagens diferentes para dores de cabeça, dores nas costas, enxaquecas e dores menstruais, por preços diferentes. O juiz deu-lhes três meses para retirar tudo do mercado. Ora bem.

No Reino Unido, segundo o Daily Mail de ontem, o Nurofen sem indicação específica de maleita custa duas libras enquanto as mesmas cápsulas com indicação para as enxaquecas e para as dores de cabeça de "tensão" custam 2,80 libras. Note-se que o Daily Mail sabe isto porque se deu ao trabalho de ir ver ao site da Boots.

A companhia defendeu esta prática dizendo que simplesmente deseja informar (que queridos) os clientes que entram numa farmácia à procura de algo que lhes alivie a queixa que lhes calhou na rifa de misérias do dia-a-dia. Estes (pobres desgraçados) não têm recurso a um médico (e porquê chatear os senhores doutores?) e assim, broncos que são, basta-lhes deitar a pata à caixinha onde vem coloridamente descrito o suplício de que sofrem.

Em Portugal, este tipo de propaganda ainda está na infância, mas os dias dos medicamentos solenes, indecifráveis e com bom grafismo (como ainda são os da Roche) têm os dias contados.

Não seria possível preservar este louvável atraso em que vivemos, em que ainda se tomam medicamentos por ordem dos senhores doutores? Não, não é. Também estamos tramados.

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