Marta Soares mantém suspeitas de ter havido “mão criminosa” em Pedrógão

Polícia Judiciária, que atribuiu origem do fogo a “causas naturais”, abriu agora inquérito para ouvir o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses “com a maior brevidade possível”.

Presidente da Liga dos Bombeiros suspeita que incêndio teve origem criminosa RTP

Está quebrado o consenso inicial quanto à origem do fogo. O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, admitiu nesta quarta-feira a hipótese de o incêndio que começou cerca das 14h40 de sábado, na localidade de Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, ter tido origem criminosa. “Saúdo a abertura de um inquérito por parte da Polícia Judiciária [PJ] e guardarei as razões da minha suspeita para o momento em que for ouvido”, declarou ao PÚBLICO.

Na sequência destas declarações, que começaram por ser feitas no fórum da TSF logo pela manhã e que foram depois repetidas ao longo do dia, a PJ manifestou a intenção de chamar Jaime Marta Soares para “em sede própria e com a maior brevidade possível fornecer todos os elementos de que dispõe”. E, apesar de o presidente da Liga dos Bombeiros preferir, por enquanto, guardar para si as razões que fundamentam as suas suspeitas, convém recordar que já antes Marta Soares alertara para uma aparente discrepância: “Quando se viu a trovoada, o incêndio já estava com mais de duas horas de ignição”, sustentara ao PÚBLICO.

Recorde-se que passaram menos de 24 horas desde o início do fogo até o director da PJ, Almeida Rodrigues, vir a público apontar as causas naturais como explicação. "A PJ, em perfeita articulação com a GNR, conseguiu determinar a origem do incêndio e tudo aponta muito claramente para que sejam causas naturais. Inclusivamente encontrámos a árvore que foi atingida por um raio”, disse Almeida Rodrigues.

Ao PÚBLICO, um especialista na investigação de fogos que pediu para não ser identificado garantiu que é “perfeitamente plausível e tecnicamente possível” determinar a origem do fogo muito pouco tempo depois de ele ter deflagrado. “A árvore atingida pelo raio apresenta marcas de enegrecimento de cima para baixo, em direcção à terra. O raio, quando cai, traz muita energia mas também velocidade, o que faz com que, quando passa pela árvore, não tenha tempo de a incendiar, abrindo-lhe apenas a casca. Quando o raio bate no chão gera energia para incendiar o quê? As ervas finas e secas. Quando o raio é absorvido pela terra, esta fica como que recozida, mais arenosa, com um brilho diferente; parece que fica vitrificada”, descreve aquele especialista, para sustentar que é efectivamente possível, num espaço de tempo muito curto, fazer essa “leitura dos vestígios”.

Quanto à questão, também levantada por Jaime Marta Soares, de ninguém se ter apercebido da trovoada antes dos fogos, este especialista também diz ser normal. “Ao contrário do que se passa no Inverno, em que as nuvens estão baixas e se ouvem os trovões, no Verão as descargas podem ocorrer sem o barulho do trovão porque as nuvens estão muito mais altas”, explica, para concluir ainda que, por aquela hora, “as pessoas estariam recolhidas dentro de casa e, por isso, menos atentas ao céu”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários