É normal!

Alguns críticos das atitudes dos nossos jovens em solo espanhol concordam com o triste espetáculo dado todos os anos por alunos do superior?

Por alturas da páscoa, os nossos alunos do 12.º ano foram até terras espanholas, na tradicional viagem de finalistas. A notícia não foi o evento em si mesmo, mas antes alguns exageros que resultaram em estragos num certo hotel, tendo originado por parte do respetivo proprietário a expulsão de 1000 estudantes portugueses que se encontravam hospedados, e a não devolução das cauções entregues à chegada, para pagamento de eventuais prejuízos.

Grande parte da crítica repreendeu as atitudes dos nossos jovens, consubstanciadas em algumas fotografias manhosas que mesmo a serem verdade, nunca poderiam ter originado qualquer uma das consequências acima referenciadas. O valor dos prejuízos não ascendeu a 50.000 euros e só cerca de dez alunos perpetraram as ocorrências relatadas. Aliás, ficou a saber-se que, já em anos anteriores, o modus operandi destes hotéis espanhóis foi apoderarem-se do valor das cauções, sem mais.

Não querendo desculpar as atitudes dos alunos portugueses em território vizinho, exige-se o apuramento da verdade, o que parece desinteressar a mais um oportunista finório, refugiado num silêncio doloso, apesar de ter anunciado uma conferência de imprensa adiada... sine die. Infelizmente, estes acontecimentos foram atirados para o vale dos esquecimentos e, para o ano, a exemplo dos outros, o filme repetir-se-á com o mesmo argumento mas personagens diferentes. Foi justo este locupletamento nas barbas de todos nós? Foram assertivas as críticas dirigidas aos nossos jovens, desculpabilizando o dono do hotel, sem mais nem porquê? Apure-se a verdade!

Se no ensino básico e secundário estes acontecimentos nos desagradam, outros existem no nosso país há muitos anos a esta parte e parecem não causar a mínima crítica ou reprovação, pois “é normal”. Desde finais de abril e durante grande parte do mês de maio, um pouco por todo o país, assistimos à(s) Queima(s) das Fitas que, sobretudo durante o cortejo respetivo, proporcionam imagens muito desagradáveis, nada consentâneas com o momento de celebração.

Ouse-se falar sobre a “chuva de cerveja”, testemunhada no cortejo e noutras iniciativas similares, altamente exponenciadas pela dinâmica das multidões. Trata-se de excessos, profundamente degradantes e potenciadores de outras atitudes inadequadas (para ser comedido na terminologia...), muito para além do limite do tolerável. E, aparentemente, incitados e aplaudidos por todos os que assistem. Ouse-se questionar ainda: o patrocínio de uma determinada marca de cerveja a um evento de tamanho significado é, na verdade, fundamental?

Alguns críticos das atitudes dos nossos jovens em solo espanhol concordam com o triste espetáculo dado publicamente, todos os anos, por alunos finalistas (e não só) do ensino superior? Então... porque se calam?

Os exageros das “queimas” não se resumem apenas à quantidade de comas alcoólicos registados nestas semanas, mas estendem-se também às praxes académicas que teimam em permitir violência (física e psicológica) e a outros tristes acontecimentos em nada dignificantes dos seus autores ou das instituições frequentadas.

Se é verdade que o ensino básico e secundário necessita de rever alguns procedimentos, manifestamente exagerados, dos seus protagonistas, também é verdade que os responsáveis pelo ensino superior não podem esconder a cabeça na areia perante reais problemas repetíveis ano após ano; os formadores de opinião pública não poderão escamotear esta realidade, só lançando as suas farpas para o ensino no patamar antes do seu pois, salvo melhor opinião, desconhecem no dia-a-dia.

O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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