Ainda só vamos na Páscoa, mas o Algarve já sonha com um Verão em grande

Procura de alojamentos turísticos na região está acima do normal para a época. Preços acompanham a tendência.

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Os principais operadores turísticos algarvios antecipam um Verão em alta Vasco Célio (arquivo)

A procura pelo aluguer de casas de férias no Algarve está a crescer a um ritmo inesperado – 20 a 25% acima do que seria expectável, segundo os principais operadores turísticos da região. Os preços, seguindo as leis do mercado, estão com tendência para subir.

“Não estamos a fazer promoções, como acontecia em anos anteriores”, diz o administrador da Garvetur, Reinaldo Teixeira, justificando a posição da agência com o facto de estar a ter um aumento de reservas superior a 20% nos dois primeiros dois meses do ano. “Temos de procurar ter actividade durante todo o ano”, adverte a secretária de Estado do turismo, Ana Mendes Godinho, de visita ao centro hípico de Vilamoura, onde decorre até 4 de Abril o Atlantic Tour – uma prova internacional com cerca de mil cavalos.

A economia da região continua a funcionar de forma pendular, oscilando entre um mês de Agosto a abarrotar e o Janeiro quase deserto. O grande desafio, afirma a governante, passa por “atingir os mercados-alvo, em função daquilo que é a nossa estratégia de diversificar a procura ao longo do ano”.

O Atlantic Tour, prova que reúne três centenas de cavaleiros de 27 países, foi apontado como um dos exemplos do caminho a seguir no combate à sazonalidade. “Olhe, acabo de ter a informação de que um cavaleiro comprou casa aqui, no Algarve”, comentava no último sábado o director do evento, António Moura, após percorrer, acompanhado de Ana Mendes Godinho, o centro hípico.

Num futuro próximo, António Moura defende a necessidade de ser criada uma “verdadeira aldeia hípica em Vilamoura” para potenciar a oferta turística da região. Para já, diz ser necessário um reforço de meio milhão de euros para promover o evento e atrair a elite dos atletas a nível mundial.

Ana Mendes Godinho reconheceu o interesse da iniciativa, mas não se comprometeu com verbas. “Estas provas permitem trazer novos mercados e novos tipos de públicos – fiquei muito impressionada com a organização, dimensão e número de participantes”, disse.

O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, confirma, por outro lado, o aumento da procura turística, na ordem dos 20%, para o próximo Verão. “A Páscoa, que funciona como barómetro da época balnear, este ano veio mais cedo”, diz, justificando, assim, a antecipação da marcação de reservas para férias. Mas lembra também os “acontecimentos externos” que atingiram outros destinos concorrentes, acabando por incentivar a procura por Portugal e Espanha.

Aposta em França
“Estamos com uma campanha de promoção de Portugal em todas as lojas da rede Intermarché em França”, adianta Ana Mendes Godinho, referindo que a acção decorre desde há duas semanas. Junto à venda de protectores solares, exemplifica, “publicitamos o Algarve como sendo o destino com mais horas de sol por ano”. A promoção da gastronomia é outra das vertentes da campanha.

“Não somos tão conhecidos como muitas vezes julgamos”, observa, por seu turno, Reinaldo Teixeira, defendendo a necessidade de mais iniciativas publicitárias no mercado francófono. “Pela primeira vez em 33 anos de vida da empresa, o mercado francês ultrapassou em 6% o volume de vendas a clientes do Reino Unido, em 2015”, enfatiza.

O grupo empresarial Enolagest (onde se integra a Garvetur) tem uma facturação anual na ordem dos 30 milhões de euros. Na área do aluguer de casas de férias dispõe, além de 600 unidades de alojamento em aparthotéis, no Algarve, de mais 200 vivendas noutras zonas, nomeadamente na região do Douro. Ainda sobre o mercado francês, Elidérico Viegas comenta: “O aumento da procura por Portugal não pode ser dissociado da compra da ANA – Aeroportos de Portugal pelo grupo Vinci, francês.”

O director regional de operações do grupo hoteleiro Tivoli, Jorge Beldade, com seis unidades no Algarve, reafirma as previsões em alta para o sector, seguindo a tendência dos últimos quatro anos. “O sector imobiliário, diz, é um factor “decisivo para o crescimento da economia”, e quem compra casa de segunda habitação aproveita ao máximo as vantagens do clima da região fazendo várias viagens ao longo do ano. Por isso, as companhias aéreas estão a aumentar o número de voos regulares, a partir dos aeroportos de Lisboa, Faro e Porto. Os investidores franceses, por via dos incentivos fiscais, mudaram o paradigma do negócio no sector turístico, sustenta o responsável. “Durante alguns anos entendeu-se que o imobiliário era inimigo da hotelaria tradicional, mas não é isso que está a suceder.”

Reinaldo Teixeira enfatiza a ideia da complementaridade dos vários segmentos de mercado na área do turismo, mas deixa um alerta: “Os preços das propriedades estão a subir e é preciso que a recuperação do mercado prossiga de forma sustentada.”

A crise dos últimos anos, explica, levou a uma “retracção dos investimentos”. Vilamoura, por exemplo, não tem praticamente casas novas para venda. “Por isso, tudo o que surge de novo vende-se bem”, sublinha.

Em relação ao aluguer de casas de férias, Jorge Beldade acha que o próximo Verão vai estar em alta: “Os grandes operadores estão a fazer reservas muito mais cedo.”

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