PS com quase metade das maiores câmaras

PSD sofre forte erosão no eleitorado urbano, mas o espaço aberto pelo seu recuo não é totalmente aproveitado pelo PS. Quem mais capitaliza são os independentes e a CDU.

Foto
António Costa ganhou em Lisboa com maioria absoluta Daniel Rocha

O PSD aprofundou a sua faceta rural ao sofrer severas perdas nos grandes municípios do litoral. Se há quatro anos os sociais-democratas dominavam dez dos 24 grandes municípios portugueses (os que contam com uma população superior a cem mil habitantes), após as eleições de ontem viram a sua expressão reduzir-se para apenas cinco. O PS aparece agora como o partido com maior implantação nas grandes cidades (fica com 11 câmaras), mas o seu desempenho acabou por ser comprometido pelo avanço dos independentes, que ficam com Matosinhos, Oeiras e Porto e também pela conquista de Loures pela CDU, coligação que passa a controlar quatro dos maiores municípios nacionais.

Vistos à lupa, os resultados da noite de ontem comprovam a difícil situação do PSD junto do eleitorado urbano, por natureza o que é mais distante dos candidatos e mais disponível a avaliar o Governo nas autárquicas. Dos cinco maiores municípios nacionais (Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia, Porto e Cascais), o partido de Passos Coelho controlava quatro câmaras. Depois dos resultados de ontem, ficou apenas com Cascais. Gaia, o terceiro concelho mais populoso do país no qual Menezes governou quatro mandatos, passou directamente para o PS. E, do ponto de vista político, o PSD sofreu ainda uma derrota maior: foi incapaz de segurar a segunda cidade do país.

Mas se o confronto directo entre socialistas e sociais-democratas foi ganho pelos primeiros nos municípios mais populosos, o desfecho nas capitais de distrito foi mais renhido. Porque aqui, na competição entre os dois principais partidos, intrometeram-se os independentes e a CDU. Em termos gerais, o PSD perdeu cinco das dez capitais de distrito que controlava (Vila Real, Coimbra, Porto, Portalegre e Faro), mas equilibrou o resultado ao conquistar os bastiões socialistas da Guarda e de Braga, um reduto controlado desde o 25 de Abril por Mesquita Machado. Saindo do território do continente e viajando até à Madeira, detecta-se aí o maior terramoto partidário destas eleições: o PSD perdeu sete das onze câmaras que controlava.

O PS tinha sete capitais de distrito e acabou por perder uma. Por causa dos conflitos internos em Matosinhos, que levaram à vitória do actual presidente numa lista de independentes, mas também por causa da forte ofensiva da CDU no Alentejo, que acabou por reconquistar Évora e Beja. Para compensar as cinco câmaras perdidas, o PS obteve importantes vitórias em Faro, Coimbra e Vila Real, a cidade natal de Pedro Passos Coelho que até agora tinha permanecido nas mãos dos sociais-democratas.

Com o novo mapa autárquico a sofrer uma forte coloração rosa e um recuo da tonalidade laranja em relação às eleições de 2009, podia supor-se que em causa estava apenas um braço-de-ferro entre os principais partidos. Nada mais errado. O fenómeno dos independentes alastrou das sete câmaras conquistadas em 2009. E se desta vez não houve listas de cidadãos em Gondomar nem no Alandroal por imposição do Tribunal Constitucional, os independentes mantiveram Oeiras, um dos mais ricos e populosos municípios do país, ganharam o Porto, Matosinhos e, entre outras vitórias, retiraram Portalegre da esfera do PSD – a lista vencedora é encabeçada por Adelaide Teixeira, actual presidente eleita pelos sociais-democratas.

Não foram só os independentes a introduzir alterações nas cores do território autárquico. Também a CDU foi capaz de fazer o tempo recuar, reconquistando não apenas Évora e Beja, mas também Loures, o sexto município mais populoso do país. E depois de ontem o distrito de Setúbal passa ainda a ser mais vermelho, após as conquistas de Grândola e de Alcácer do Sal ao PS.

O CDS foi capaz de sobreviver aos estragos sofridos pelo seu parceiro na coligação governamental e foi outro dos vencedores da noite: à tradicional praça-forte do partido em Ponte de Lima, o partido de Portas acrescentou duas vitórias nas regiões autónomas e outras duas no distrito do continente onde o líder do partido costuma concorrer como cabeça de lista às legislativas (Aveiro) – Vale de Cambra e Albergaria-a-Velha.

Mas se muitas coisas mudaram no país autárquico, outras permaneceram ancoradas na tradição. Viseu, a cabeça do império laranja, permaneceu fiel ao PSD. Mas a erosão nas bases provocada pelos independentes nascidos das cinzas das querelas partidárias parece até capaz de demolir as mais sólidas filiações partidárias. Em Aguiar da Beira, por exemplo, o ex-chefe de gabinete dos autarcas laranja decidiu concorrer por conta própria contra o seu partido, recebeu o apoio do PS e ganhou a câmara. Na Anadia, a lista de independentes informalmente liderada pelo ex-presidente do PSD Litério Marques bateu a lista do seu anterior partido.

Quando às questões programáticas e à análise do desempenho dos partidos, cada caso é um caso, como, aliás, sempre foi. Em Mourão, o município que menos investiu no país em 2012, o PS não foi penalizado pelos eleitores, e em Fornos de Algodres, cuja dívida vale 683% das receitas obtidas no ano passado, o PSD salvou-se igualmente da penalização nas urnas.

E se há casos em que os extremos se tocam, o PS fez disso um bom exemplo: tanto ganhou na capital do país como no Corvo, o mais pequeno município, com apenas 450 habitantes.

Sugerir correcção
Comentar