Em dia de Brexit, Parlamento diz que Europa à beira do abismo não deve dar passo em frente

O futuro da Europa foi o tema levado a debate no Parlamento pelos socialistas. Todos querem combater os populismos e ter uma melhor União Europeia, só não se entendem no como.

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Referindo-se ao Brexit, Edite Estrela disse que hoje, "não é um dia felix" Rui Gaudêncio

Hoje, quarta-feira, dia 29 de Março “não é um dia feliz”. É um dia, nas palavras de Edite Estrela do PS, em que passados 60 anos de União Europeia (UE), ela “não alarga, mas encolhe”. A saída do Reino Unido da UE é um tema que une os partidos na vontade de combater os populismos, mas que os separa na hora de saber o que fazer com a Europa, até porque a visão sobre temas internos contamina o consenso, mesmo nas palavras.

“Sessenta anos de paz, democracia, prosperidade não podem ser ofuscados por cinco anos de austeridade e sacrifício. É preciso que os cidadãos compreendam que também o mundo precisa de uma UE forte, coesa e prestigiada na cena internacional, que lidere o combate aos desafios globais e a resolução dos conflitos mundiais”, começou por dizer a deputada socialista Edite Estrela numa declaração política que antecedeu o debate desta tarde, no Parlamento, e na qual lembrou que o “problema da União Europeia não é, pois, de velocidade, mas de direcção” e que a solução passa por mais integração para “combater o discurso populista e demagógico da extrema-direita europeia”.

Nas intenções, os partidos estão todos juntos. Mas na prática, separam-os valores de fundo. BE e PCP preferiram apontar os problemas que esta Europa não resolve. “Há uma falta de credibilidade do projecto europeu actual com uma perpetuação da crise institucional e de valores que a União Europeia vive actualmente”, disse a deputada Isabel Pires. “Nada disto tem credibilidade (…). Esta UE está na verdade desagregada. Afinal de contas este combate ao populismo é para valer ou é só mais uma proclamação?”, questionou.

Os dois partidos que apoiam o Governo têm uma posição diferente da do PS em relação à zona euro e por isso, António Filipe, deputado do PCP, deixou um alerta: “Corrigir o erro não pode ser feito através da repetição e intensificação desse erro. Parece-nos errado dizer que a solução para o erro é acelerar o caminho. Faz lembrar aquele dito de que estávamos à beira do abismo e demos o passo em frente”.

À direita, o discurso é outro. Há preocupação pela saída do Reino Unido e vontade para acelerar a integração europeia. Mas também há uma diferença para os partidos que apoiam o Governo. “Nós – ao contrário do PCP e BE - temos um futuro para construir na União Europeia. Temos de dar um contributo para uma Europa mais forte, mais solidária, mais coesa”, defendeu a deputada do PSD, Regina Bastos, dizendo que neste aspecto o PSD “está convictamente” do lado do PS.

O mesmo tom foi adoptado pelo deputado do CDS, Pedro Mota Soares. “Ouvi-a defender o espaço da União Europeia e da zona euro, só que em Portugal esta solução de Governo assenta em quatro partidos, em que três convergem num ponto, que Portugal devia sair da zona euro. Isso coloca um problema de confiança no espaço europeu”, disse.

Como conclusão, nas respostas aos partidos, a socialista lamentou: “Nem tudo está bem na Europa, obviamente nem tudo correu bem”. 

Mais tarde, também o CDS escolheria o Brexit e a Europa como tema da sua declaração política. Pedro Mota Soares fez um discurso a condenar a gestão da crise feita pela União Europeia. “É compreensível e legítima a perplexidade face às dificuldades que as instituições da União revelaram em resposta a crises muito sérias”. O centrista, que foi membro do Governo anterior lamentou que “várias vezes no diálogo entre as instituições não houve – e continua a não haver – respeito nem pelos governos, nem pelos parlamentos nacionais e sobretudo pelos povos que ainda sofrem a aplicação dos exigentíssimos programas de ajustamento”.

Depois desta avaliação da gestão da situação de crise que, disse, “tornou-se tão prolongada que quase a faz parecer trivial”, voltou-se para o Governo actual. “O ministro das Finanças português, que hoje (e de todos os dias logo hoje) está em Londres a pedir confiança aos investidores internacionais, vai ter de lhes explicar que só é ministro porque em Lisboa há um Governo a que chamam geringonça (contraption, dirá o ministro em inglês), que assenta numa maioria contra o euro, contra a agenda comercial da Europa e – não sei se chegam a dizê-lo, mas que pensam, lá isso pensam - contra a pertença de Portugal à Europa”, acusou.

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