Justiça para Nuno Crato

Claro está que não há aqui só mérito da escola. Os pais de uma criança que hoje tem 10 anos possuem habilitações muito superiores às dos seus avós.

Ontem foi um dia triste para todos aqueles que acham que a função da escola é, em primeiro lugar, fazer crianças felizes (tese de Catarina Martins) ou professores felizes (tese de Mário Nogueira). Os resultados do estudo PISA de 2015 colocaram os alunos portugueses de 15 anos pela primeira vez acima da média da OCDE. Os resultados dos testes TIMMS colocaram os alunos portugueses do 4º ano de escolaridade à frente da Finlândia nos resultados de Matemática, esse velho calcanhar de Aquiles. São resultados extraordinários. É muito possível que as crianças não estejam mais felizes. Quase de certeza que os professores não estão mais felizes. Mas a escola portuguesa está melhor. E está melhor por uma única razão: a exigência aumentou.

Mais: aumentou contra os desejos dos sindicatos do sector; aumentou tendo de enfrentar greves e manifestações; aumentou no meio de um combate diário, difícil, desgastante, contra quem acha que o objectivo de uma escola não é ensinar alunos, mas dar emprego a professores. E se acham que exagero, vão ao site da Fenprof e vejam a forma como é celebrada a melhor performance de sempre no PISA. Resposta: não é. Sobre os resultados de Portugal não há, à hora em que escrevo, uma única palavra, nem que seja para disfarçar. O que há é uma notícia com o título “PISA: forte na promoção da equidade, mas fraco na defesa de políticas positivas para os professores”, que reflecte a posição da Internacional da Educação (adoro este nome), e que demonstra de forma exemplar tudo o que acabo de dizer: uma obsessão com as condições do exercício da profissão completamente desligada dos interesses da escola e dos alunos. É por isso que a Fenprof não festeja estes resultados. Porque sabe que não há nada para festejar. Estes resultados não foram obtidos com a Fenprof, mas sim apesar da Fenprof.

E se o resultado do PISA é fruto de um trabalho longo, graças a uma série de ministros de Educação competentes (Marçal Grilo, David Justino, Maria de Lurdes Rodrigues), o mérito dos resultados do TIMMS deve ir direitinho para Nuno Crato, que fez da luta pela Matemática nos primeiros ciclos uma prioridade. Eu discordei de várias medidas que tomou, a mais gravosa das quais me parece ter sido o aumento do número de alunos por sala. Mas sempre celebrei, enquanto pai de três filhos que estão neste momento a frequentar o ensino público, o aumento da exigência que conseguiu imprimir na Matemática, fosse pela definição precisa das metas curriculares, fosse pela promoção dos exames de quarto ano.

Claro está que não há aqui só mérito da escola. Os pais de uma criança que hoje tem 10 anos possuem habilitações muito superiores às dos seus avós, e é natural que a determinação que colocam na performance escolar dos filhos seja mais elevada. Qualquer pai, excepto aqueles para quem a definição de felicidade é não trabalhar, sabe que metas e exames são uma forma eficaz de exigir mais aplicação aos alunos e aos professores. O aumento dos níveis de ansiedade é largamente compensado pelas competências que se conquistam ao nível do estudo, do empenho e da concentração num objectivo. Seja na escola ou em casa, a receita do sucesso é sempre a mesma: combater os interesses instalados (do sindicato à PlayStation) e exigir, trabalhar, persistir. Eu sei isso. Nuno Crato sabe isso. Será que Tiago Brandão Rodrigues também sabe isso? Tendo em conta a pressa com que desmantelou uma estrutura que acaba de se revelar vencedora, tenho as maiores dúvidas.

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