Direita diz que Portugal está mais longe de cumprir as metas e mais perto de dificuldades

Maria Luís Albuquerque critica uma “estratégia economicamente errada” por parte do Governo. CDS diz que os números colocam os portugueses "mais perto de dificuldades".

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Maria Luís Albuquerque e Pedro Mota Soares reagiram aos mais recentes números do INE Enric Vives Rubio

Numa conferência dada hoje por Maria Luís Albuquerque, a vice-presidente do PSD reagiu aos números relativos ao crescimento económico do segundo trimestre de 2016, revelados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Entre Abril e Junho, o crescimento da economia fixou-se em 0,2% face ao primeiro trimestre do ano. Com uma subida em termos homólogos de 0,8%, a deputada afirma que este valor totaliza aproximadamente metade do que foi registado no ano de 2015. A ex-ministra das Finanças classifica o crescimento da economia nacional como “francamente negativo”.

“O Governo tem tido uma actuação que é imprudente, tem seguido uma estratégia económica errada. Nós temos alertado recorrentemente para a necessidade de dar atenção a estes aspectos, de fomentar o crescimento económico com as políticas adequadas”, afirmou Maria Luís Albuquerque. A ausência de crescimento económico leva a vice-presidente do partido a concluir que o cumprimento das metas a que o Governo se propõe enfrentará dificuldades consideráveis, uma vez que afecta o défice, a dívida pública e da “realidade do emprego e que depende muito da capacidade de recuperar e de crescer por parte do país.”

Acusando o Governo de ter posto em causa a confiança no investimento logo no início do seu mandato, a ex-ministra das Finanças lamentou que, em termos líquidos, o sinal positivo da balança comercial diga respeito à redução das importações e não à expansão das exportações, que considerava serem, até ao ano passado, o “grande motor de crescimento da economia”. Para Maria Luís Albuquerque, o sinal negativo que as exportações actuais transmitem revela “como este modelo económico está errado”.

Acrescentou ainda que, em períodos de fraco crescimento económico, a austeridade é o passo seguinte, por se seguir à “falta de capacidade para fazer face às nossas necessidades”.

Respondendo a uma questão dos jornalistas, Maria Luís Albuquerque assegurou que foi a mudança da estratégica económica que causou a desaceleração do crescimento económico que se verificava até o ano passado, algo que não se esperaria a não ser como “consequência das políticas”.

No final do seu discurso, absteve-se de responder sobre uma previsão concreta de crescimento da economia até ao final do ano. “O PSD não faz previsões económicas dessa natureza. Nós acompanhamos aquilo que vai acontecendo, alertamos para aquilo que está errado. Não nos surpreendem infelizmente os dados”, explicou a social-democrata. Acusando a estratégia do executivo actual de não actuar sobre as variáveis mais importantes para o crescimento económico, Maria Luís Albuquerque acrescentou que medidas como a reposição dos rendimentos deveriam ser executadas “gradualmente, para não pôr em causa os resultados que já estávamos a conseguir alcançar e que revertiam a favor de todos”.

Em entrevista ao PÚBLICO, o ministro das Finanças Mário Centeno já tinha admitido que as previsões do crescimento da economia em 1,8% poderiam ter de ser revistas.

CDS-PP afirma que as metas para este ano "estão mais longe"

Para o CDS-PP, o crescimento da economia em apenas 0,2% entre Abril e Junho, afasta o Governo das metas orçamentais e colocam os portugueses “mais perto de dificuldades”, considerou hoje o CDS-PP. “As metas que o Governo tinha para este ano estão mais longe e as dificuldades que os portugueses podem vir a ter estão mais perto e isso, para nós, não é uma boa notícia”, afirmou, no Parlamento, Pedro Mota Soares.

“É uma notícia má para a economia portuguesa. Ao longo deste ano, sempre que tivemos dados do crescimento económico, esses dados são maus e são até piores do que o que se estava à espera”, lamentou o deputado e dirigente centrista Pedro Mota Soares. O deputado salientou que “a economia portuguesa está a crescer muito pouco, está até a desacelerar” e que Portugal “cresceu metade do que está crescer a zona euro” e “cresceu em 2016 metade do que cresceu em 2015 com um governo diferente, com um modelo de crescimento económico diferente”.

“Portugal tinha um modelo de crescimento económico assente nas exportações, assente no investimento e assente na procura interna e este Governo tem atacado o crescimento económico, tem atacado a atividade económica, o investimento está a cair, [e] o investimento privado caiu muito”, criticou. O antigo ministro da Solidariedade, no governo PSD/CDS-PP, acrescentou que “até o investimento público está abaixo do investimento público do ano passado" [as exportações caíram mais 2% em Junho, de acordo com dados revelados já este mês], e certamente que não é a procura interna que consegue compensar o que está a acontecer de falta de confiança na economia”.

“A verdade é que não temos um Governo junto das empresas exportadoras, a ajudar as empresas exportadoras a ganharem até novos mercados, como tivemos no passado”, disse Mota Soares. O deputado “centrista” apontou o exemplo de Espanha e França, que estão a crescer o dobro de Portugal, e acusou que o Governo “não acredita no investimento, não acredita nas exportações, só acredita na procura interna e isso tem um reflexo do ponto de vista deste crescimento económico”.

“O próprio investimento público este ano está abaixo de 2015, que na altura era muito criticado pelo Partido Comunista, pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Socialista como sendo pouco, a verdade é que este Governo das esquerdas está até do ponto de vista do investimento público abaixo daquilo que aconteceu o ano passado”, frisou.

Para Mota Soares, “há de facto um problema de confiança na economia portuguesa, os dados do investimento são muito preocupantes nesse mesmo sentido e certamente que não é a procura interna que vai conseguir suplantar tudo isso”. “Do ponto de vista da nossa economia, nós já conhecemos os resultados de metade do ano, estamos muito longe da meta que o Governo inscreveu no Orçamento [do Estado para 2016], que era 1,8%, [e] estamos até longe da meta que o Governo agora falou a Bruxelas”, para evitar as sanções por incumprimento da meta do défice, afirmou.

O INE informou que “o contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu significativamente, observando-se um crescimento menos intenso do consumo privado e uma redução mais expressiva do investimento”. Em comparação com o primeiro trimestre de 2016, a melhoria do PIB em 0,2% de abril a junho é justificada pelo INE com o contributo positivo da “procura externa líquida, enquanto a procura interna registou um contributo nulo”.

Os resultados correntes das Contas Nacionais Trimestrais do segundo trimestre de 2016 serão divulgados pelo INE no dia 31 de Agosto. Texto editado por Sónia Sapage

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