Cámones e andalás

Na altura em que os portugueses puseram o nome de camone aos falantes de inglês era raro encontrar-se um português que soubesse falar inglês. Aquilo que mais saltava ao ouvido era “come on”, que é “anda lá”, com ou sem ponto de exclamação. “Come on!” também quer dizer “despacha-te!”. É o que os pais dizem às crianças quando elas se atrasam. Também é o que se diz quando se quer convencer alguém a fazer qualquer coisa: “come on, não sejas chato”.

Se fossem os ingleses a pôr o nome aos portugueses nós seríamos os andalás. “Olha aqueles andalás a experimentar bonés”, ouviríamos dizer. Ser um andalá não é por si só depreciativo. Diz-se dos camones que são mais compreensivos quando a comida não presta. Não são como os andalás que fazem escarcéus se aparece um bago de milho no arroz de tomate.

Os camones não são apenas ingleses, irlandeses, escoceses, galeses, americanos dos EUA, canadianos, australianos e neo-zelandeses. Isto embora só agora, tendo acabado de escrever esta lista, tenha percebido o quanto ela já é comprida. Quando se diz, por exemplo, que “os camones gostam mais de comer massa” é seguro que se incluam povos como o holandês e o austríaco.

No entanto, já ouvi especificar “não são camones, são italianos”. Ou espanhóis. Também os japoneses e os brasileiros nunca são camones. E os franceses? Os franceses são discutíveis, como sempre.

A expressão tem-se tornado mais abrangente ao longo dos anos. Dantes eram só os ingleses. Um dia todos os estrangeiros serão camones. É pena. Ou ainda bem?

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