“É injusto dizer que Israel quer eliminar os palestinianos”, diz Paulo Rangel

Ministro recusa que haja um genocídio na Palestina e diz que Portugal não vai reconhecer, para já, a sua soberania. União Europeia foi “ingénua” com a Rússia, disse Rangel ao El País.

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Numa comparação entre a escalada do conflito no Médio Oriente e a guerra na Ucrânia, Paulo Rangel considerou que a primeira é "mais estrutural" e a segunda é uma "crise aguda" Anna Costa
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, considerou, em entrevista ao jornal espanhol El País, que "seria muito injusto dizer que Israel pretende eliminar o povo palestiniano".

O governante português admitiu que "há uma catástrofe humana que tem de ser condenada" e "reparada", mas recusa a tese de genocídio no conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, porque "o genocídio pressupõe a vontade de eliminar um povo", justificou.

Paulo Rangel também confirmou que o Governo português não vai, pelo menos para já, juntar-se a Espanha para reconhecer a soberania do Estado da Palestina. Portugal está à espera "do momento mais oportuno para dar esse passo". O ministro admite que a posição portuguesa é semelhante à espanhola, que se prepara para reconhecer a soberania da Palestina nos próximos dias, mas "não é exactamente a mesma". Há "uma diferença temporal".

Em Abril, na primeira viagem oficial enquanto primeiro-ministro a Espanha, Luís Montenegro comunicou a Pedro Sánchez que apoia a solução dos dois Estados, assim como "o processo que a Palestina tem de pretensão de adquirir o estatuto de membro de pleno direito das Nações Unidas".

No entanto, já nessa altura, também disse que Espanha "não tem exactamente a mesma posição que o Governo português": "Creio que o contributo que damos para poder colaborar num ambiente europeu e internacional que possa fomentar a paz é no sentido correcto e é isso que farei", disse o primeiro-ministro.

Questionado sobre quais as condições necessárias para que Portugal reconheça a Palestina como um Estado soberano, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse que a sua preocupação tem a ver com a criação de "uma linha divisória" na União Europeia — uma "fractura que radicalize posições", descreveu Paulo Rangel. Portugal quer, assim, manter "uma posição construtiva" estando em conversações com os restantes Estados-membros.

Numa comparação entre a escalada do conflito no Médio Oriente e a guerra na Ucrânia, Paulo Rangel considerou que a primeira é "mais estrutural" e a segunda é uma "crise aguda" que põe em causa "o modo de vida europeu". Ambas são, no entanto, "feridas abertas às portas da União Europeia", descreveu o ministro, recusando que a situação na Palestina tenha roubado protagonismo à guerra na Ucrânia.

Quanto a esta última, Paulo Rangel disse considerar desde sempre que a Europa está a criar uma dependência económica "excessiva" em relação à Rússia, sobretudo no sector da energia. "Houve ingenuidade e algum erro", admitiu o ex-eurodeputado, que esteve em Bruxelas durante 15 anos.

"Se a Europa está apostada na transição ecológica, a dependência dos combustíveis fósseis russos era não só geopoliticamente perigosa, mas também contrária aos objectivos de luta contra as alterações climáticas", argumentou. Portugal e Espanha não participaram tanto nesse erro, considerou o ministro, porque "investiram fortemente nas energias renováveis".

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