Ataque de Israel mata filhos e netos do líder do Hamas

Televisão israelita diz que carro em que viajavam foi atingido por um míssil. Haniyeh garante que o ataque que matou três dos seus filhos não vai influenciar posição do Hamas nas negociações.

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Ismail Haniyeh REUTERS/Aziz Taher
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Ismail Haniyeh é líder do bureau político do Hamas e uma das figuras-chave nas negociações para um acordo que permita um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a libertação dos israelitas raptados nos ataques 7 de Outubro. Enquanto estas decorrem, no Cairo, um ataque da aviação israelita matou pelo menos seis membros da sua família – três filhos e pelo menos dois netos – num campo de refugiados no norte do enclave palestiniano.

“Se eles [Israel] pensam que atacar os meus filhos no auge destas conversações, antes de ser apresentada a resposta do movimento [Hamas], fará com que o Hamas mude de posição, estão a delirar”, afirmou Haniyeh, em declarações à Al-Jazeera. "O sangue dos meus filhos não é mais valioso do que o sangue dos filhos do povo palestiniano... Todos os mártires da Palestina são meus filhos”, disse ainda.

Um vídeo divulgado nas redes sociais, e que o canal pan-árabe diz ter verificado, mostra o momento em que Haniyeh recebeu a notícia, quando estava no hospital de Doha a visitar palestinianos feridos que foram retirados de Gaza. Segundo a televisão, Haniyeh parece repetir uma frase usada quando alguém morre – “Que Deus lhes facilite o caminho” – antes de prosseguir com a visita.

Segundo Haniyeh, que vive exilado no Qatar, o ataque aconteceu quando os seus filhos visitavam familiares no campo de refugiados de Shati, cumprindo uma tradição da festa do Eid al-Fitr, que assinala o fim do Ramadão. O jornal israelita Haaretz e a televisão israelita Canal 14 identificam as vítimas como Hazem e a sua filha Amal; Amir, com o seu filho Kheled e a sua filha Razan, e Mohammed. Dois dos netos morreram e o terceiro estará ferido.

De acordo com este canal, o carro em que circulavam na Cidade de Gaza foi atingido com um só míssil, disparado de um avião.

As Forças de Defesa de Israel não confirmaram oficialmente o ataque. “Os três filhos de Haniyeh eram operacionais da ala militar do Hamas e nós estamos determinados a eliminar todos os operacionais do Hamas”, disse um responsável ao site de notícias israelita Walla (citado pelo jornal The Times of Israel).

Líder máximo do movimento islamista, Haniyeh ocupa cargos de relevo no movimento desde o final dos anos 1980. Como todos os dirigentes do grupo, viu vários membros da sua família mortos em ataques israelitas ao longo dos anos: só nesta guerra, de acordo com a imprensa palestiniana, tinha perdido um irmão e um sobrinho em Outubro; um neto em Novembro e há relatos de que um filho já tivesse sido morto em Fevereiro.

Quando os mortos da violência em Gaza são já mais de 33 mil (segundo números das autoridades do Hamas, considerados credíveis, mas que não distinguem civis de combatentes) – e como com muitas pessoas de Gaza –, Haniyeh já viu morrer dezenas de membros da sua família alargada nos últimos seis meses.

“Louvado seja Deus que me honrou com o martírio de três dos meus filhos, juntamente com vários dos seus filhos, para unir-se ao grupo de mártires da minha família, cujo número alcança aproximadamente os 60”, afirmou ainda o dirigente. “Sim, com o sangue dos mártires, as feridas dos feridos e a dor, criamos esperança e criamos liberdade e independência para o nosso povo, a nossa causa e a nossa nação.

Haniyeh, que vive no exílio há vários anos, primeiro na Turquia, agora no Qatar, foi nomeado primeiro-ministro em 2006, depois de o Hamas ter conquistado a maioria dos votos nas eleições nacionais palestinianas desse ano – e antes de a Fatah e o Hamas se envolverem nos confrontos que terminaram com a primeira a liderar o governo na Cisjordânia e o segundo no poder na Faixa de Gaza.

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