Hamas não vai nomear candidato para as presidenciais palestinianas

Se o candidato da Fatah for, como se espera, Mahmoud Abbas, as sondagens indicam que ficaria atrás de Ismail Haniyeh, líder do movimento islamista. Eleições legislativas e presidenciais serão primeiras que a Palestina verá em 15 anos.

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Abbas, aqui a discursar na ONU, é presidente da Autoridade Palestiniana desde 2005 CAITLIN OCHS/Reuters

O Hamas não vai apresentar um candidato próprio às eleições para a presidência da Autoridade Palestiniana, marcadas para 31 de Julho – antes, a 22 de Junho, está prevista a realização de legislativas. O anúncio, que terá sido recebido com alívio por Mahmoud Abbas, foi feito por Moussa Abu Marzouk, uma das principais figuras do Hamas nas negociações de reconciliação com a Fatah, nos últimos anos.

Foi no final de Setembro que as duas principais facções palestinianas anunciaram o acordo para as primeiras eleições na Palestina desde a surpreendente vitória do movimento islamista nas parlamentares de 2006, pondo fim a 40 anos de domínio do partido de Yasser Arafat. Os dois partidos chegaram a formar um governo de união mas o executivo entrou em colapso e seguiu-se um conflito, com o Hamas a assumir, em 2007, o controlo da Faixa de Gaza e a Fatah, de Abbas, a manter a governação na Cisjordânia.

Os dois grupos aceleraram as negociações após a aproximação de Israel aos Emirados Árabes Unidos e Bahrein (entretanto também já houve normalização de relações com o Sudão e Marrocos). Entregues a si próprios, acordaram uma “liderança unificada”, sendo por isso natural que o Hamas não apresente um candidato alternativo a Abbas, que todos esperam se apresente a votos, apesar de não ter ainda anunciado a recandidatura.

A confirmação de Marzouk, em declarações à televisão Al-Jazeera, no domingo à noite, chega logo depois de a Autoridade Palestiniana ter enviado uma carta a Washington onde afirma que todas as facções se comprometem em aceitar um Estado palestiniano dentro das fronteiras pré-1967 (antes da Guerra dos Seis Dias em que Israel conquistou a Cisjordânia, Gaza, Jerusalém Oriental e os Monte Golã) e que o Hamas concordou em obedecer às leis internacionais e a transferir de forma pacífica o poder, dependendo do resultado das eleições.

Num artigo de opinião no diário The Gulf News, do Dubai, a autora Michael Jansen escreve que tanto Abbas como o líder do Hamas, Ismail Haniyeh “estão determinados em usar as eleições para anular a tentativa de Donald Trump de remover os palestinianos da resolução para o conflito palestiniano”. A ideia é “recuperar legitimidade junto dos palestinianos” e, ao mesmo tempo, mostrar à Administração de Joe Biden que os palestinianos estão prontos a recomeçar negociações rumo a uma solução de “dois Estados”.

Ora, conseguir o apoio dos Estados Unidos e de outros países ocidentais só é possível sem um candidato oriundo do movimento islamista que os EUA e a União europeia consideram um grupo terrorista.

Segundo a última sondagem do Centro de Investigação Palestiniano sobre Política e Pesquisa (PCPSR, na sigla em inglês), de Dezembro, Haniyeh reunia 50% das intenções de voto em eleições presidenciais, com Abbas a ser o preferido de 43% dos inquiridos. O inquérito mostrava ainda que caso o candidato da Fatah fosse Marwan Barghouti, um proeminente dirigente preso há vários anos em Israel, a facção que governa a Cisjordânia venceria as presidenciais, com 61% contra os 37% de Abbas.

Membros do Comité Central da Fatah visitaram já em Fevereiro Barghouti, que celebrou a “decisão histórica de realizar eleições, e ter-lhe-ão oferecido a liderança da lista do partido para o Conselho Legislativo da Palestina nas eleições de Maio. Para já, segundo o site Al-Monitor, Barghouti recusa porque ainda não desistiu de se apresentar nas presidenciais de Junho.

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